Somos capazes de alimentar o país

Por Romário Rossetto, Fonte Adital

A Agricultura Camponesa, responsável por mais da metade da produção agrícola brasileira tem resistido bravamente, ao longo da história, às políticas governamentais excludentes, que são aliadas aos interesses das classes dominantes. Nossa história é marcada pela luta entre dois modelos de agricultura. De um lado, está o agronegócio – agricultura capitalista, baseada na monocultura, incapaz de alimentar a população e que ainda utiliza a terra de forma altamente mecanizada e usa agrotóxico, e organismos geneticamente modificados que são prejudiciais a saúde. Do outro lado, temos a agricultura camponesa – baseada no policultivo, na mão-de-obra familiar, na produção de alimentos saudáveis e no auto-sustento.

A imprensa burguesa massacra os camponeses com a disseminação da idéia de que a agricultura camponesa é pobre e não proporciona nenhum desenvolvimento para o país. Hoje existem cerca de oito milhões de famílias camponesas, sendo posseiros, arrendatários não capitalistas, parceiros, varzeiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, lavradores, agroextrativistas, quebradeiras de coco, povos indígenas, quilombolas e assentados. Esses camponeses produzem cerca de 70% do feijão, 84% da mandioca, 58% da produção de suínos, 54% do leite bovino, 49% do milho e 40% das aves e ovos.

A maior parte do volume de financiamento do governo vai para os agronegócio. Para a safra 2004/2005 as pequenas propriedades receberam apenas R$ 7 bilhões, enquanto para o agronegócio foram destinados R$ 39,5 bilhões. Em 2003, dez grandes grupos econômicos multinacionais obtiveram R$ 4,3 bilhões do Banco do Brasil, quantidade praticamente igual a que 1,3 milhão de camponeses acessaram, ou seja, cerca de R$ 4,5 bilhões para a safra 2002/2003.

Ao contrário do que muita gente pensa, a agricultura de grande escala gera pouco emprego e causa um êxodo rural, que os centros urbanos não são capazes de absorver com dignidade. As pequenas unidades de produção envolvem mais de 14,4 milhões de trabalhadores rurais, ou seja, 86,6% do total. Enquanto isso, os latifúndios são responsáveis por apenas 2,5% dos empregos, o que corresponde a pouco mais de 420 mil postos de trabalho.

A existência desse atual sistema agrícola excludente, que consiste em expulsar pequenos e médios proprietários do campo, tem por objetivo exterminar a agricultura camponesa. Essa agricultura, tão criminalizada pela mídia, é formada por uma grande diversidade cultural adquirida durante séculos e exerce um papel fundamental na preservação ambiental, no combate à fome e a pobreza e na consolidação do campo.

Nós do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e outros movimentos sociais do campo temos o dever de conscientizar nossos agricultores e a sociedade em geral, da importância de um novo modelo agrícola para o Brasil. E uma das nossas principais bandeiras é a defesa da soberania alimentar dos povos para que possamos decidir sobre nossa própria política agrícola e alimentar.

* Romário Rosseto é da Direção Nacional do Movimento de Pequenos Agricultores