O golpismo dos Estados Unidos

Por Emir Sade, Fonte Agência Carta Maior

Depois de não conseguir, pela primeira vez na história da OEA (Organização dos Estados Americanos), eleger seu candidato à Secretaria-geral da Organização, o governo de George W. Bush tenta, valendo-se da realização da Assembléia Geral em seu território, criar uma situação de constrangimento para o novo secretário-geral, José Miguel Insulza, e ao mesmo tempo tentar demonstrar que não perderam a eleição.

A tentativa de criar uma comissão de monitoramento dos países do continente, para definir se realmente obedecem aos cânones democráticos, mal esconde a incapacidade do governo Bush para influenciar de outra maneira os governos e a população do continente, tratando agora de substituir essa via pela da ingerência interna aos países. Se de fato estivesse interessado no destino da democracia no continente, deveria se colocar outras perguntas:

1) Em que medida a militarização da Colômbia, para a qual contribui cotidianamente o governo dos EUA, coloca em risco a existência da frágil democracia colombiana?

2) Que condições pode ter o Haiti de retomar o caminho democrático, se o único interesse manifestado pelas grandes potências é o da invasão militar do país?

3) Em que medida as políticas liberais levam ao enfraquecimento dos governos e ao desinteresse político, questionando as próprias bases da democracia no continente?

4) Não será necessário monitorar especialmente a democracia dentro mesmo dos EUA, afetada seja pelas medidas restritivas das liberdades individuais e coletivas levadas a cabo pelo governo Bush, seja pela existência de um sistema político que permite não somente que a minoria eleja o presidente, mas também a existência de fraudes, como as internacionalmente reveladas sobre a apuração eleitoral na Flórida, nas eleições presidenciais de 2000?

No entanto, o que deseja o governo dos EUA é encontrar algum meio para tentar interferir na situação interna da Venezuela, país que elegeu e ratificou seu presidente como nenhum outro no continente. O Ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, já revelou a posição do governo brasileiro, totalmente contrária a qualquer ação que possa significar intervenção externa na situação de qualquer um dos países do continente. Terminou assim, mais cedo do que esperava Washington, mais essa tentativa de legitimar intervenções militares, o governo dos EUA.