As mudas romperam o silêncio

Manifesto
de homens e mulheres em solidariedade às camponesas
da Via Campesina


As mudas romperam o silêncio

I

Havia
um silêncio, sepulcral

sobre dezoito mil hectares roubados
dos povos tupi-guarani
sobre dez mil famílias quilombolas
expulsas de seus territórios

sobre
milhões de litros de herbicidas
derramados nas plantações


Havia um silêncio promíscuo

sobre o cloro utilizado
no branqueamento do papel
a produzir toxinas que agridem
plantas, bichos e gentes

sobre
o desaparecimento
de mais de quatrocentas espécies de aves
e quarenta de mamíferos
do norte do Espírito Santo

Havia um silêncio intransponível

sobre a natureza de uma planta
que consome trinta litros de água-dia
e não dá flores nem sementes

sobre
uma plantação que produzia bilhões
e mais bilhões de dólares
para meia dúzia de senhores


Havia um silêncio espesso

sobre milhares de hectares acumulados
no Espírito Santo, Minas, Bahia
e Rio Grande do Sul

Havia
um silêncio cúmplice

sobre
a destruição da Mata Atlântica e dos pampas

pelo cultivo homogêneo de uma só árvore:
o eucalipto.

Havia
um silêncio comprado

sobre a volúpia do lucro
Sim, havia um silêncio global
sobre os capitais suecos
sobre as empresas norueguesas
sobre a grande banca nacional

Por fim
havia um imenso deserto verde
em concerto com o silêncio.


II

De
repente
milhares de mulheres se juntaram
e destruíram mudas
a opressão e a mentira

As
mudas gritaram
de repente

e
não mais que de repente

o
riso da burguesia fez-se espanto
tornou-se esgar, desconcerto.


III

A
ordem levantou-se incrédula
clamando progresso e ciência
imprecando em termos chulos
obscenidades e calão

Jornais, rádios, revistas,
a internet e a TV,
as empresas anunciantes
executivos bem-falantes
assessores rastejantes
técnicos bem-pensantes
os governos vacilantes
a direita vociferante
e todos os extremistas de centro
fizeram coro, eco,
comício e declarações
defendendo o capital:

“Elas não podem romper o silêncio!”

E
clamaram por degola.


IV


De repente
não mais que de repente
milhares de mulheres
destruíram o silêncio


Naquele dia
nas terras da Aracruz
as mulheres da Via Campesina
foram o nosso gesto
foram a nossa fala.

Adesões:

Adelaide
Gonçalves, historiadora, UFC

Ana Esther
Ceceña, investigadora da UNAM e Clacso, México

Andrea Tronchin,
Itália

Anna Martins
Soares, Dep. Estadual do PcdoB/SP

Alípio
Freire, jornalista e escritor, Campinas

Aníbal
Quijano, cientista social, Peru

Anxo Forxán,
Galiza, Espanha

Ana Freire
Cortón, Galiza, Espanha

Apo Leung,
AMRC, Hong Kong, China

Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, doutor em geografia USP

Ariovaldo
Ramos, pastor, teólogo e presidente da Associação
Evangélica Brasileira

Augusto
Boal, dramaturgo

Beth Carvalho,
cantora

Belinda
L. Formanes, Filipinas

Braulio
Alvarez, Organizacion Canez, Venezuela

Carlos Rodrigues
Brandão, escritor e educador

Chico César,
cantor

Daniel M.
Griffith, Ph.D. em Biodiversidade de Bosawas Nicarágua

Danielle
Mitterrand, ex-primeira dama da França

Dom Tomas
Balduíno, bispo e conselheiro da CPT

Dom Pedro
Casaldáliga, bispo e poeta

Doris Gutierrez,
deputada Honduras

Ed Shepherd,
AMRC, Hong Kong, China

Eduardo
Galeano, escritor Uruguai

Eliana Rollemberg,
pesquisadora, secretaria-executiva da CESE

Eliseo Xavier
Miguélez Díaz, Galicia, Espanha

Eric Nepomuceno,
escritor

Eric Toussaint,
economista, escritor, presidente da CADTM Bélgica

Espacio
de Mujeres del Frente Popular Darío Santillán, Argentina

Fabio Konder
Comparato, jurista

Fernando
Ferro, Dep. Federal PT/PE

FX Supiarso,
Workers’ Rights Concortium, Jacarta, Indonésia

Gaudêncio
Frigotto, doutor em educação, UERJ

Héctor
Alimonda, cientista social, Argentina

Heloísa
Fernandes, socióloga, USP

Henri Alleg,
escritor, França

Jose Bové, agricultor e ativista da confederação
de agricultores da França

Julia Mallo
Vieiro, Galiza, Espanha

Juliano
de Carvalho Filho, professor USP e diretor da ABRA

Laura Pina,
Rede Mulher, Timor Leste

Lesbia Solórzano,
Organizacion Canez, Venezuela

Leonardo
Boff, teólogo, escritor

Lidia Senra,
Galiza, Espanha

Louise Caroline
Lima e Silva, vice-presidente da UNE

Luis Fernando
Veríssimo, escritor

Luis Ricardo
Leitão, doutor em literatura latino-americana, UERJ

Karen Rothschild,
Canadá

Kathleen
McAfee, San Francisco State University, Estados Unidos

Mario Maestri,
historiador

Martinho
da Vila, cantor e compositor

Marcelo
Barros, escritor e monge beneditino

Margaret
Reeves, Pesticide Action Network-North America

Mary Ann
Manahan, Filipinas

May Wong,
AMRC, Hong Kong, China

Michel Löwy,
escritor e cientista político da Universidade de Paris

Miguel Urbano,
jornalista e escritor, Portugal

Nalu Faria,
Marcha Mundial das Mulheres

Nelson Pereira,
Dep. Estadual do PcdoB/PE

Oscar Niemeyer,
arquiteto

Papang Hidayat,
KontraS, Jacarta, Indonésia

Pat Mooney,
cientista, especialista em OGMs, do grupo ETC, Canadá

Peter Rosset,
doutor em soberania alimentar, México

Plínio
de Arruda Sampaio, consultor da FAO e deputado constituinte

Raj Patel,
Universidade de KwaZulu-Natal, Durban, África do Sul

Raul Zibechi,
jornalista e escritor Uruguai

Rahardjo
Waluyo Jati, jornalista, Jacarta, Indonésia

Ricardo
Antunes, doutor em sociologia, Unicamp

Roseana
Queiros, MNDH

Silvia Beatriz
Adoue, RNE W086245-6, professora argentina, residente em SP

Silvia Ribeiro,
pesquisadora, estuda as empresas transnacionais na agricultura, México

Silvio Tendler,
cineasta

Stephen
Bartlett, Agricultural Mission , Estados Unidos

Temístocles Neto, Central Única dos Trabalhadores

Teresa Anderson,
Estados Unidos

Xoán
Ramón Díaz Saavedra, Galiza, Espanha

Wierajanti,
jornalista, Jacarta, Indonésia

Se
você também quiser contribuir com o manifesto, assine e envie
para o governador do Rio Grande do Sul,
Germano Rigotto,
com com cópia para [email protected]

Forte abraço,

Secretaria Nacional do MST

Breves

Ministério
Público pede fim de eucaliptos no sul do RS

“A
expansão das florestas exóticas no Rio Grande do Sul começa
a ameaçar os patrimônios naturais”. A avaliação
sobre os danos das plantações de pinus e eucalipto na área
próxima ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe é do Ministério
Público Federal no Rio Grande do Sul e levou o órgão
a entrar com uma ação na Justiça Federal.

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