Por falar em paciência e colheitas

Por Jacques Távora Alfonsin

2O ataque de uma multidão de mulheres sem-terra a uma empresa transnacional, contra o tipo de exploração de terra que ela desenvolve, provocou ruidosa condenação. Afirma-se que a paciência se esgotou em relação a(o)s sem terra. Parece oportuno, todavia, questionar-se: Que limite deve ser reconhecido, então, para a paciência dela(e)s?

Desde o “encobrimento” do nosso país, como os historiadores costumam desmascarar o nosso “descobrimento”, ele vive sob uma servil dependência econômica externa, apoiada pelos latifundiários brasileiros, colocando nossa terra de costas para o povo, cativa de monoculturas de exportação em sucessivos “ciclos” históricos (pau Brasil, borracha, açúcar, ouro e café, por exemplo). Esse destino imposto à nossa (?) terra gerou cruéis efeitos sociais, desde a ignominiosa escravidão de ontem até o trabalho escravo e a pobreza desumana do(a)s sem-terra, hoje. Quem vende soja, carne e madeira, agora, se encarrega de manter tal política, em nome do “crescimento econômico” e “das “divisas”. É “exportar ou morrer”, como dizia Fernando Henrique. Assim, quem alimenta o povo, tentando garantir o mais elementar direito à vida, não é o latifúndio nem o agro negócio exportador; é a pequena, explorada e pobre terra familiar.

Por isso tudo, o protesto mostrou que o povo pobre do Brasil, além de não querer morrer(!), para escapar daquela sinistra alternativa, não se alimenta nem de eucalipto nem de celulose… produtos questionados, inclusive, pelos ambientalistas. Por maior que seja a impaciência diante dos seus protestos, portanto – os quais nem de longe se igualam, em poder, à injusta economia e à opressora política que os causam e justificam – eles continuarão testemunhando que a paciência da(o)s pobres sem terra, também, se esgotou.

* É advogado, integrante da Rede Nacional de Advogados Populares (RENAP) e Procurador do Estado aposentado.