70% dos que passam fome no mundo são produtores de alimentos

Com informações da Rádio Mundo Real

Enquanto a Assembléia Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) se reunia para discutir os termos da Rodada de Doha, que pretende legitimar o livre-comércio na agricultura mundial, diferentes organizações sociais se encontraram essa semana para protestar contra a postura do órgão.

Segundo Paul Nicholson, coordenador da Via Campesina e integrante do Sindicato Labriego Basco, “nós estamos nos mobilizando, dizendo que não pode haver nenhum acordo aqui. O que querem negociar – a privatização dos recursos naturais, a liberalização de todo o comércio de alimentos, indústria e serviços – não pode ser negociado”. Nicholson fez parte das mobilizações realizadas pelos movimentos camponeses em Genebra (Suíça), onde ocorreu a reunião da OMC.

Desde que venceu o prazo para decidir sobre os modelos para a agricultura, os membros da OMC vêm realizando intensas negociações que devem ir até a metade de julho, data em que se conclui a Rodada de Doha.

“Não se pode colocar o comércio acima dos direitos humanos e ambientais. Esse movimento não é contra o comércio, mas o comércio tem que responder às necessidades de todos os habitantes do mundo, não das multinacionais”, acrescentou o coordenador.

Dados da fome e da agricultura

De acordo com os últimos dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a maioria das pessoas que passam fome pertence ao mundo rural: cerca de 70% dos famintos do mundo são produtores de alimentos.

Para Nicholson, “é claro que essa liberalização do comércio, esta imposição de um modelo mercantil, de produção e de consumo, destrói especialmente o mundo rural, nossa economia local, as pequenas empresas e a convivência”.

Hoje os camponeses são 55% da população. Este sistema também impõe “um modelo de agricultura sem agricultores, com base nas grandes corporações que entendem que o meio ambiente, o mundo rural, o trabalho de produção agrícola, são simplesmente um feito mercantil. Não entendem que eles são parte da identidade de um povo, de seus direitos sociais e ambientais, do direito dos camponeses”, concluiu.