Sem Terra promovem uma semana de festa da Reforma Agrária no PR

Os trabalhadores e trabalhadoras do MST de Querência do Norte e Santa Cruz do Monte Castelo, região noroeste do Paraná, realizaram a 5º Festa da Reforma Agrária entre os dias 22 a 28 de maio.

A comemoração, que aconteceu durante uma semana, possibilitou aos Sem Terra da região participarem de várias atividades políticas, técnicas e festivas. Foram realizadas oficinas de capacitação com agricultores assentados, acampados e estudantes. Segundo, os organizadores, o objetivo é capacitar os produtores para melhorar a renda familiar e baixar o custo de produção das famílias assentadas.

Este é o quinto ano que o MST realiza a festa nas brigadas Sétimo Garibaldi e Sebastião da Maia. Para o coordenador do MST Pedro Cabral a idéia é celebrar as conquistas dos trabalhadores, repassar conhecimentos e criar momentos de alegria. Cabral conta ainda que este ano a atividade também teve formação para ajudar os assentados a encontrar maneiras diferentes de enfrentar o dia-a-dia.

Cerca de 5 mil pessoas participaram da Festa da Reforma Agrária. A população de Querência do Norte também teve a oportunidade de assistir ao cinema na praça, adquirir artesanatos e produtos fitoterápicos, expostos pelo setor de saúde do MST.

“Essa semana de festa foi uma experiência muito positiva porque além de atividades para as famílias ligadas ao Movimento também tivemos eventos direcionados ao público urbano, como palestras e cinema na praça”, afirma Pedro Faustino, da coordenação do MST, que comemorou a participação da população.

No sábado à noite aconteceu o baile e no domingo a festa da Reforma Agrária, no Cepag (Centro de Formação e Pesquisa Ernesto Che Guevara), no assentamento Oziel Alves Pereira, em Santa Cruz do Monte Castelo. O baile teve apresentação de dança típica sobre a cultura africana pelo grupo de Jovens Guerreiros, em seguida foi realizado o lançamento do CD dos Cantadores do Povo, com músicas compostas por cantores do MST da região, e o show com a banda Terreirão. No domingo, a festa teve início às 10h00 com torneio de futebol, seguindo por churrasco, atividades culturais e bingo.

História

O MST chegou na região há cerca de 18 anos. Em julho de 1988 ocorreu a primeira ocupação, na fazenda Pontal do Tigre, em Querência do Norte. Hoje existem nesse município e em Monte Castelo cerca de 1.200 famílias ligadas ao MST. Esses trabalhadores e trabalhadoras vivem em 11 assentamentos, um pré-assentamento e um acampamento, localizado na fazenda Água de Prata em Querência do Norte.

Pedro Cabral conta que quando os Sem Terra chegaram na região, a relação com a sociedade foi difícil, mas hoje o Movimento é referência para os trabalhadores rurais e urbanos da região. “Aqui a luta não foi fácil por ser uma região dominada por grandes fazendas e com uma burguesia muito atrasada, mas como a população era muito pobre isso contribuiu para a conquista dos assentamentos”, garante.

Querência do Norte e Monte Castelo eram duas cidades pouco desenvolvidas. Com a chegada do Movimento, grande parte da população que não tinha trabalho conseguiu um pedaço de terra para produzir o sustento da família. “Além de conquistar a terra, essas pessoas conquistaram a cidadania. Hoje são donas do seu próprio destino e têm uma vida econômica melhor”, comemora Cabral.

Produção

As famílias assentadas da região têm uma produção variada, mas atualmente a principal linha é o leite. Todo mês são produzidos cerca de 30 mil litros, além de 200 mil sacas de arroz, 800 alqueires de mandioca e outros produtos para a subsistência e venda em menor escala. Também há vários assentados que estão desenvolvendo o projeto de leite orgânico, (na técnica de Pastoreio Voisin).

Para organizar a comercialização e agregar valor à produção, em 1996 os trabalhadores do MST organizaram a Coana (Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária Avante Ltda), que também dá assistência técnica aos assentados.

A cooperativa implantou uma plataforma de resfriamento de leite, que recebe por mês cerca de 10 mil litros dos assentamentos. O posto de resfriamento está sendo adaptado para empacotar o leite, produzir queijo, iogurte, doce de leite e outros derivados. Marli Brambilla, da coordenação da Coana e do MST, explica que essa é uma forma de agregar valor ao produto, aumentando o preço final repassado aos assentados.

Os trabalhadores também estão empacotando arroz e vendendo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que distribuiu o produto para entidades filantrópicas, quilombolas, comunidades indígenas e acampamentos de trabalhadores e trabalhadoras rurais.