No Mercosul, aliança contra o agronegócio

Por Dafne Melo
Fonte Jornal Brasil de Fato

De 23 a 25 de junho, organizações sociais do Brasil, Argentina, Equador, Paraguai e Bolívia estarão reunidas em Buenos Aires com alguns objetivos em comum: identificar inimigos e problemas em comum e, a partir disso, traçar estratégias para conter o avanço do agronegócio no continente. Essa é a proposta do Fórum de Resistência ao Agronegócio. Durante os três dias, os representantes das organizações sociais e ecologistas também irão compartilhar informações, trocar experiências e desenvolver novas estratégias de ação para poderem atuar de forma mais coordenada.

Maria Rita Reis, da ONG Terra de Direitos – uma das participantes –, explica que a tônica do encontro é não discutir o agronegócio apenas como uma atividade econômica, mas, principalmente, analisá-lo como uma força política atuante em toda a América Latina. Nesse contexto, também será feita uma avaliação do papel que o Mercosul tem tido em promover o fortalecimento do modelo da monocultura industrial exportadora – características do também chamado agrobusiness.

A iniciativa busca fazer o contraponto aos fóruns que as corporações ligadas ao agronegócio têm realizado. Durante os dias 10 e 13 de junho, na Argentina, houve o encontro da Associação Internacional de Administração do Agronegócio. Já de 27 a 30 do mesmo mês, será organizado em Rosario, Argentina, o Mercosoja, que reunirá produtores de soja inseridos no Mercosul.

Agronegócio no Brasil

Maria Rita conta que, das experiências brasileiras, serão expostas as relações que o agronegócio tem com a concentração de terras e a violação de direitos humanos no país. Entre elas, o uso de trabalho escravo, assassinatos de sem-terra e lideranças, e contaminação de trabalhadores rurais com agrotóxicos utilizados, para citar alguns exemplos.

Outro eixo é como, no Brasil, os movimentos sociais e a sociedade civil têm se organizado – e podem se organizar – para combater o agronegócio. No Brasil, explica Maria Rita, a atividade tem grande prestígio graças a uma grande rede de propaganda que inclui além de ações institucionais de empresas como Monsanto, Cargill, Bunge e Syngenta, apoio da imprensa comercial e também encontra apoio nas esferas governamentais. No Legislativo, há a bancada ruralista. Já no Executivo, o maior aliado está no Ministério da Agricultura, comandado pelo produtor de cana Roberto Rodrigues. Por meio destas forças, o agronegócio “consegue transformar suas reivindicações em políticas de Estado”, avalia a integrante da Terra de Direitos.

Segundo Maria Rita, o que não é posto às claras é que “o agronegócio é uma verdadeira atividade subsidiada pelo governo. Recebe mais investimentos do que a indústria. Basta ver o resultado das reivindicações feitas pelo setor nesse semestre”. Em pacote lançado em maio, o setor obteve pouco mais de R$ 40 bilhões de empréstimo, enquanto a agricultura familiar recebeu apenas um quarto deste valor.