Pablo Neruda

Se Pablo Neruda tivesse mantido seus interesses e sua vocação literária apenas na poesia lírica, ele já teria sido um dos maiores poetas do século XX. Poucos escreveram o amor com tanta sensibilidade e fizeram tanto sucesso entre os corações apaixonados de todo o mundo. Mas, sensibilizado pelos problemas político e sociais ocasionados pela Guerra Civil Espanhola, Neruda passou a escrever sobre os homens e sobre a liberdade.

Ricardo Eliecer Neftali Reyes Basoalto nasceu em 1904, em Parral, Chile, e aos 14 anos, período em que despertou para as atividades literárias, adotou o pseudônimo de Pablo Neruda. A escolha do nome e o motivo para sua adoção só foi revelada mais tarde, em seu livro de memórias, Confesso que vivi. Seu pai não apoiava sua vocação e não gostava da idéia de ter um filho poeta. Encontrou, então, o nome Neruda, referência a um importante escritor tcheco, que em sua época era venerado pelo povo e resolveu adotá-lo.

Filho de um ferroviário, foi para Santiago, em 1921, para terminar os estudos e lecionar Francês. Aos 19 anos já havia publicado sua primeira obra, Crepusculário. Três anos depois, o livro 20 poemas de amor e uma canção desesperada, sua obra mais conhecida, bateu recordes de vendas e é considerada até hoje um dos mais lindos conjuntos de poemas de amor.

Sem abandonar a poesia, em 1927 torna-se cônsul e viaja a países como Ceilão, Java e Singapura, e em 1934, vai para a Espanha e presencia os horrores da guerra civil. Neruda viajou por países da América Latina e Central, e em cada país que passava, era reconhecido como grande poeta e lutador dos direitos do homem. Era conhecido também como um grande líder socialista.

De volta ao Chile, em 1945, recebe o Prêmio Nacional de Literatura e é eleito senador da república. Devido a sua participação ativa nas atividades políticas e ao fato do Partido Comunista, ao qual pertencia, ter se tornado ilegal, Neruda se vê obrigado a abandonar o Chile e buscar o exílio, passando a viver um período em casa país, entre eles México, Itália e França. Em pleno exílio, é informado que seu último livro, Canto Geral, foi lançado clandestinamente no México e tornou-se rapidamente um sucesso. A obra retrata os problemas éticos, políticos e sociais da América Latina, e foi dedicado e inspirado nos mineradores de carvão que conheceu enquanto viajava pelos desertos andinos na função de senador.

O período de exílio termina em 1952, quando regressa ao Chile, e em 1953 recebe o “Prêmio Stalin da Paz”. Até 1969 viaja o mundo proferindo diversas palestras, sem deixar de produzir obras inspiradas em seu país e sobretudo no amor.

Em 1969, é indicado a pré-candidatura a presidência do Chile, mas recusa em favor de Salvador Allende, para quem faz uma campanha ativa. Allende é eleito em 1970, como candidato de uma coligação de esquerda. O presidente pretende a implantação de um sistema socialista, nacionalizando bancos, minas de cobre e grandes empresas. Mas, em 1973, um golpe militar chefiado pelo general Pinochet derruba seu governo e Allende morre durante o golpe, na defesa do palácio presidencial.Após sua morte o regime democrático é extinto e o país sofre uma onda de fuzilamentos.

Já doente, Neruda recebe a notícia dos horrores da repressão política e da morte de vários de seus companheiros. Em 23 de setembro, oito dias após a deposição de Allende, Pablo Neruda morre, amargurado pela situação do país que tanto amou, e que tão lindamente descreveu em seus versos.

O povo

Por Pablo Neruda

Passeava o povo suas bandeiras rubras
e entre eles na pedra que tocaram
estive, na jornada fragorosa
e nas altas canções da luta.
Vi como passo a passo conquistavam.
Somente a resistência dele era um caminho,
e isolados eram como troços partidos
duma estrela, sem bocas e sem brilho.
Juntos na unidade feita em silêncio,
eram o fogo, o canto indestrutível,
o lento passo do homem na terra
feito profundidades e batalhas.
Eram a dignidade que combatia
o que foi pisotead, e despertava
como um sistema, a ordem das vidas
que tocavam as portas e se sentavam
na sala central com suas bandeiras