Ativistas são impedidos de entrar em Cingapura

Por Verena Glass
FonteAgência Carta Maior

A reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que começou nesta quinta,14, e vai até o dia 20, em Cingapura, já está atraindo holofotes esta semana; não por conta do debate econômico, mas pela atitude repressiva do governo local em relação a entidades e organizações sociais convidadas para assistir ao evento.

No último dia 8, uma articulação de organizações internacionais publicou uma nota de protesto contra a proibição da entrada no país de cerca de 30 delegados de ONGs que pretendiam acompanhar o debate oficial, denunciando a existência de uma “lista negra” de pessoas e entidades que teriam a entrada negada pelas autoridades de imigração.

Segundo o diretor da Campanha pela Reforma do Banco Mundial na Itália, Antonio Tricarico, representantes do governo italiano teriam lhe dito que seu nome constava desta lista e que nem fosse a Cingapura. Entre as organizações que estariam na lista figurariam também a INFID (Indonésia), Freedom from Debt Coalition (Filipinas), Focus on the Global South (região asiática) e World Development Movement (Inglaterra).

O receio do governo – deixam transparecer os oficiais da imigração – seriam manifestações organizadas a partir de um evento paralelo – o Fórum Internacional dos Povos contra o FMI e o BM – que ocorrerá em Batam, na vizinha Indonésia, nos dias 15 a 17.

Denúncias de detenções e deportações de ativistas tem pipocado em mensagens enviadas por ativistas e representantes de ONGs desde quarta-feira (13). Nesta quinta, duas representantes de organizações brasileiras – Iara Pietricovsky, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), e Maria Clara Soares, representante da ActionAid Américas – também foram detidas.

Após a detenção de cerca de duas horas, Iara foi liberada por apresentar um convite oficial da reunião do FMI/BM como observadora da sociedade civil. Já Maria Clara e a queniana Kiama Karra, da ONG Kenya Debt Relief Network, serão deportadas, como informou, no inicio da madrugada (horário local) um oficial da imigração no aeroporto de Changi.

Cancelamento

O clima repressivo em Cingapura e a negativa do visto de entrada na cidade-estado levou uma série de entidades a decidir pelo boicote ao evento oficial, mas esta não seria a melhor solução para o impasse, avaliou o coordenador internacional da ONG Social Watch, Roberto Bissio.

Nesta quarta-feira, Bissio escreveu uma carta ácida ao economista-chefe do FMI, Rodrigo Rato, e ao presidente do BM, Paul Wolfowitz, na qual pôs em dúvida a sua capacidade de coordenar a realização da reunião em Cingapura.

“Como os senhores certamente sabem, vários colegas de ONGs e jornalistas credenciados no evento vem sendo deportados ou tiveram seu acesso ao país negado, por uma decisão unilateral e arbitraria do país anfitrião. Ouvi dizer que os senhores reclamaram destes procedimentos, mas estou abismado com inabilidade dos senhores de assegurar a integridade do evento que os senhores presidem. Cada uma das centenas de pessoas que acorrerão à reunião anual tem seu papel, sejam ministros das finanças, diplomatas, jornalistas ou humildes representantes de movimentos de base. Se um único entre estes é barrado, a legitimidade do todo é questionável”, escreveu Bissio.

E continua: “dada a séria erosão de credibilidade de suas organizações devido ao não cumprimento de acordos por parte do país anfitrião, eu estou convencido de que os senhores devem considerar postergar o evento e mudá-lo para um local mais conveniente. A inconveniência seria pequena comparada com a poderosa mensagem que este gesto representaria na defesa da democracia e dos direitos humanos”.

Bissio ainda afirma que foi convocado a aderir ao boicote das organizações sociais à reunião, mas que seu objetivo é justamente lançar no evento o Relatório Social Watch 2006 sobre a arquitetura financeira internacional, que apresenta “as opiniões de articulações de cidadãos em mais de 50 países sobre porque esta arquitetura financeira global não funciona para os pobres e como redesenhá-la”.