Atos relembram 30 anos de Chacina da Lapa

Com informações do Diário Vermelho

Há 30 anos, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B), foram executados por agentes da ditadura em uma pequena casa da rua Pio XI, na Lapa, região oeste de São Paulo (SP). No mesmo dia, João Batista Drummond, outro integrante da direção do partido, foi morto nos porões do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna).

Haroldo Lima, membro do Comitê Central do PCdoB e atual presidente da Agência Nacional de Petróleo, Elza Monnerat, Aldo Arantes, Wladimir Pomar, João Batista Drummond, Joaquim Lima e Maria Trindade, militantes do PC do B, foram presos em 15 de dezembro de 1976, véspera da chacina, e barbaramente torturados.

Ontem um ato para relembrar a data reuniu mais de 300 pessoas na Assembléia Legislativa de São Paulo. Hoje, às 19h00, um outro ato será realizado no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, na rua Rego Freitas, 530.

Os sobreviventes

“É muito emocionante rememorar a Chacina da Lapa. Aqueles homens representavam três gerações com algo em comum: o ideal e o compromisso com a luta, até as últimas conseqüências”, disse no ato de ontem Aldo Arantes, lembrando dos dirigentes mortos.

Em seguida, Haroldo Lima relatou sua experiência. “No momento em que a Chacina aconteceu, a ditadura já entrava em processo de declínio após 12 anos no poder. (Os militares) liquidaram a Guerrilha do Araguaia, mas perceberam que o núcleo do PCdoB ainda estava em atividade. E para a repressão aquilo era inaceitável”, explicou o dirigente.

Após a morte de Pomar e Arroyo na casa da Lapa, a polícia montou o cenário para que se passasse a idéia de confronto entre os “subversivos” e militares. “Não havia armas ali. Nossa defesa era agir na clandestinidade”, disse Haroldo. O dirigente lembrou ainda de uma imagem que lhe ficou marcada. Preso, Haroldo recebeu a visita do seu então advogado, o jovem Luiz Eduardo Greenhalg, que lhe mostrou – e enfrentou – o cruel delegado Sérgio Fleury. “O homem trabalhava com a arma em cima da mesa. O instrumento dele não era a caneta, era o revólver”, recorda.

Encapuzado, foi levado para o Rio de Janeiro, após sessão de espancamento. No avião, pôde reconhecer as companhias e Aldo Arantes e Elza Monnerat. “Ela dizia ‘Covardes! Covardes’, com um tom de voz pungente, mas inconfundível. Sabia que era a Elza”. Naquele momento, explicou Haroldo, ele se dera conta de que outros companheiros estavam passando por situação semelhante à sua.

Ao iniciar sua participação no ato político, o deputado federal pelo PT/SP, Luiz Eduardo Greenhalg, que aos 26 anos defendeu os militantes contra os desmandos da repressão, recordou o estado precário em que encontrou Aldo Arantes e Haroldo Lima nas dependências do DOI-CODI, após as sessões de tortura. “Aquele processo, pela primeira vez, pôs o DOI-CODI na defensiva”, declarou. Segundo Greenhalg, os acontecimentos que levaram à reorganização do PCdoB também contribuíram para que se organizasse a resistência contra o regime e o movimento pela redemocratização do país, bem como para a criação do Comitê Brasileiro pela Anistia. “É importante que todos os brasileiros, de todos os quadrantes, lembrem desses heróis e que essa lembrança sirva para que se reafirmem seus compromissos na luta por um país melhor”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, recordou o impacto que teve com notícia da Chacina da Lapa. Na ocasião, Aldo era jornalista num diário alagoano. Um dos redatores, conforme seu relato, redigia, chorando a notícia, posteriormente editada com o intuito de amenizar o fato. “O termo ‘assassinado’ teve de ser substituído por ‘mortos’. Era um tempo em que até as palavras eram proibidas”. Para ele, “pessoas que se expuseram a um sacrifício, como eles se expuseram, só podem ter em mente uma causa de muito valor”. Finalizando sua fala, que fechou o evento, o primeiro presidente comunista da Câmara dos Deputados ressaltou que “o sangue derramado na Lapa foi honrado pelo povo brasileiro. Hoje, nosso país vive num ambiente de liberdade em que os comunistas podem lutar fora da clandestinidade”.

Os movimentos sociais

Dentre aqueles que compuseram a mesa do ato político, dois eram representantes dos movimentos sociais. Quintino Marques Severo, secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores), declarou que “se hoje podemos homenagear esses companheiros é porque muitos lutaram pela democracia. Acredito que a cada dia o povo vai tomando mais consciência do caminho que precisamos percorrer para se atingir a democracia plena”. Para isso, explicou, “precisamos enfrentar algumas ditaduras que ainda existem: a da grande mídia, a do sistema financeiro e a das oligarquias nacionais”.

João Paulo Rodrigues, representando o MST, disse que o Movimento “é fruto das lutas do povo pela democracia”. Segundo ele, ao longo da história, “a burguesia soube aproveitar os momentos de refluxo das lutas sociais para reagir contra a democracia”. Reconhecendo o papel dos dirigentes comunistas mortos na Chacina, João Paulo reafirmou “o compromisso político de dar continuidade à luta desses heróis”.

Entre os participantes da mesa estavam o presidente do PCdoB, Renato Rabelo; o presidente da Câmara, Aldo Rebelo; o secretário de Formação, Adalberto Monteiro; os dirigentes comunistas Aldo Arantes e Haroldo Lima; o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalg (PT/SP); o deputado estadual Ítalo Cardoso (PT/SP); o deputado estadual Nivaldo Santana (PCdoB/SP); o presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência da República, Marco Antônio Barbosa; o conselheiro da Comissão de Anistia, Egmar José de Oliveira; o secretário-geral da CUT, Quintino Severo e o dirigente do MST, João Paulo.