“Os governos têm que ouvir o clamor dos povos”

Por Solange Engelmann No momento em que a América Latina passa por grandes mudanças de rumo, com as eleições de vários governos de esquerda, como Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correia (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua) e Evo Morales (Bolívia), a Ministra da Justiça da Bolívia, Casimira Rodríguez, afirma que a mobilização dos movimentos sociais e dos povos indígenas é fundamental para a integração da América do Sul.

Por Solange Engelmann

No momento em que a América Latina passa por grandes mudanças de rumo, com as eleições de vários governos de esquerda, como Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correia (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua) e Evo Morales (Bolívia), a Ministra da Justiça da Bolívia, Casimira Rodríguez, afirma que a mobilização dos movimentos sociais e dos povos indígenas é fundamental para a integração da América do Sul.

Segundo ela, para que o projeto de integração se torne uma realidade, as ações dos governos devem partir das necessidades da população pobre e excluída da região. “A unidade dos movimentos sociais e dos presidentes é extremamente importante, porque está nas mãos dos governantes melhorar as condições de vida e gerar dignidade aos latino-americanos. Hoje temos que partir das necessidades e do clamor dos povos”, garante.

Casimira nasceu em um povoado perto de Cochabamba. Filha única de família pobre, começou a trabalhar como doméstica aos 13 anos. Tornou-se representante das trabalhadoras domésticas e teve papel fundamental na aprovação da Lei de Legalização do Trabalho das domésticas, com horário de trabalho, seguro médico, 13° salário e outras conquistas.

A Ministra da Justiça, concedeu entrevista a página do MST, durante a Cúpula pela Integração dos Povos, de 6 a 9 de dezembro de 2006, em Cochabamba, Bolívia.

Qual a relação presidente Evo Morales com os movimentos sociais da Bolívia?
Para nosso presidente é importante estar junto às organizações, porque estamos partindo das necessidades dos povos. Os povos são sábios, a vida lhes deu muita sabedoria. Essa sabedoria aparece nas suas reclamações e sugestões. Nesse sentido, nosso presidente diz que os ministros devem ter uma ligação com as organizações de base. Eu venho de uma organização de base, de mulheres trabalhadoras do lar, estou há mais de 20 anos nesse processo. Isso nos permite crescer. A autoridade deve ter um sentido de serviço, respondendo a todas as demandas dos povos. Somente assim estaremos trabalhando conjuntamente para mudar esse processo, que estamos iniciando passo a passo na Bolívia.

Como vai funcionar a Lei de Terras, aprovada pelo Senado Boliviano me novembro de 2006?
No Ministério da Justiça estamos trabalhando com os povos que temos em Santa Cruz, Tarija, Sucre, locais onde existem famílias inteiras escravizadas por grandes fazendeiros. É necessário que esta lei promulgada se cumpra. Será muito duro, não vai ser fácil, porque lamentavelmente há a reação de algumas classes, que não querem perder os privilégios, mesmo assim consideramos que esta Lei tem que ser aplicada. Não pode haver pessoas com grandes extensões de terras, enquanto outras não têm lugar para viver. É graças a essa má distribuição de terra e renda que muitos estão passando fome e miséria.

Como se comportam os fazendeiros brasileiros na Bolívia?
Cremos que todos os cidadãos devem respeitar as normas do país onde estão radicados. Lamentavelmente, onde a corrupção toma conta, se perdoa tudo. Por isso existe impunidade. Normalmente os fazendeiros têm atitudes muitos desumanas. Eles “se dão ao luxo” de castigar peões, abusar das mulheres, de não mandar as crianças à escola. São como morcegos que vão chupando o sangue do trabalhador e se alimentando para engordar seu corpo. Por isso, é importante a distribuição eqüitativa das riquezas. Nada vai acontecer de repente, mas o processo de mudança vai permitir, pouco a pouco, mudar isso.

Qual a política do governo boliviano para a integração da América Latina?
Muitos boliviamos começaram a sonhar com esta mudança, porque queremos que os povos não sofram mais discriminações, fome, impunidade e injustiças. Hoje, chegou o momento. Há novos presidentes com novas visões. Neste sentido a unidade é extremamente importante, dos movimentos socais e dos presidentes. Porque está nas mãos dos governantes melhorar as condições de vida e gerar dignidade aos latino-americanos. Hoje temos que partir das necessidades e do clamor dos povos. Os governos e os representantes dos Estados têm que ouvir o clamor dos povos.