Milhos transgênicos tomam conta de Brasília

Cerca de 60 ativistas do Greenpeace tomaram hoje, 14, as ruas de Brasília vestidos de milho e com placas onde se lia “Diga não ao milho transgênico!”. Os ativistas estavam espalhados ao longo de todo o trajeto feito pelos membros da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), desde o hotel onde estão hospedados na capital federal até o local onde acontece a reunião da Comissão, no Setor Policial Sul. A CTNBio se reunirá hoje e amanhã em Brasília para discutir diversos pedidos feitos por empresas multinacionais de biotecnologia; entre eles, há cinco processos de liberação comercial de milho geneticamente modificado.

“O que aconteceu hoje em Brasília é uma representação fiel do que pode acontecer com o Brasil todo caso o milho transgênico seja liberado”, alertou Gabriela Vuolo, coordenadora de campanha de engenharia genética do Greenpeace Brasil. “A contaminação genética no caso do milho é muito grave, e uma vez aprovada, a variedade transgênica pode aparecer nos locais mais inesperados e indesejados possíveis. O milho geneticamente modificado é um ser vivo e será impossível controlar sua dispersão”.

O milho é um dos três cereais mais consumidos em todo o Brasil (de acordo com o IBGE) e somos um centro de diversidade da espécie, ou seja, temos inúmeras variedades crioulas que foram aprimoradas e adaptadas pelos agricultores ao longo de muitos anos de cultivo.

O objetivo da atividade de hoje era influenciar o voto dos 27 membros da CTNBio contra a liberação do milho transgênico no Brasil e demonstrar que a contaminação genética é uma conseqüência irreversível da liberação de variedades transgênicas no meio ambiente. Na entrada do local onde está acontecendo a reunião, outros ativistas simularam o isolamento de uma plantação de milho transgênico. Vestidos com macacões e máscaras, aproveitaram a oportunidade para entregar aos membros da CTNBio cópias do relatório “Registros de Contaminação Transgênica – 2006”, lançado hoje pelo Greenpeace Brasil. O relatório será lançado internacionalmente, em parceria com a rede GeneWatch, do Reino Unido, na próxima segunda-feira, dia 19 de fevereiro.

O relatório traz informações sobre todos os casos documentados de contaminação transgênica ocorridos desde 1996, quando os organismos geneticamente modificados foram plantados pela primeira vez em escala comercial. Dentre os 142 casos listados, 35% deles se referem a variedades de milhos transgênicos. O relatório destaca os principais casos, como o do milho Starlink, que em 2000 contaminou a cadeia de alimentos norte-americana, e cujo recall custou entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão para as agências governamentais e o fabricante. O milho Starlink não estava aprovado para consumo humano, e tinha sido desenvolvido apenas para ração animal.

“O fato é que a biotecnologia está completamente fora de controle. Nem as empresas e nem os governos estão preparados para colocar em prática medidas que garantam a biossegurança do país. Os membros da CTNBio não podem fechar os olhos para as evidências contidas nesse relatório, assim como não podem ignorar os mais de 70% dos brasileiros que não querem comer transgênicos”, disse Gabriela.

Desde o dia 6 de fevereiro, o Greenpeace disponibilizou em seu site um protesto virtual, no qual os internautas podem enviar uma mensagem aos 54 cientistas da CTNBio (27 titulares e 27 suplentes), pedindo para que não aprovem as variedades transgênicas e exigindo o direito de consumir alimentos saudáveis. Além disso, voluntários de sete capitais brasileiras realizaram atividades nos últimos dias, exigindo biossegurança e levando informações sobre a CTNBio para as populações de BH, Rio, SP, PoA, Manaus, Brasília e Salvador.

Fonte: Greenpeace