Transnacionais pressionam órgãos ambientais do Sul a não alterarem zoneamento para eucalipto

Luiz Renato Almeida
Agência Chasque

As grandes empresas de celulose instaladas no Rio Grande do Sul pressionam para que a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) não faça mudanças no Zoneamento Ambiental para o Licenciamento da Silvicultura. A Fepam apresentou, em dezembro passado, um documento com cerca de 250 páginas trazendo informações sobre a fauna e a flora gaúchas e fazendo restrições ao plantio de eucalipto e pínus em determinadas áreas.

Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), representando principalmente os interesses da Votorantim, Stora Enso e Aracruz, afirma que o zoneamento vai prejudicar os investimentos na Metade Sul do Estado. Prefeitos da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul) pretendem realizar um seminário em março, para discutir com a Fepam e com a Ageflor as mudanças no documento. O órgão ambiental do Governo do Estado já adiantou que poderá fazer modificações que beneficiem as indústrias.

Para o pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ludwig Buckup, o zoneamento apresentado em dezembro pela Fepam é completo e precisa ser seguido pelas empresas.

“A gente nota que há uma preocupação de se fazer um zoneamento que leve em conta as peculiaridades ambientais do espaço meridional do Estado, com as áreas apropriadas e não apropriadas para o plantio. Acho que é um documento que deve ser seguido mesmo. Mas é claro que as indicações que estão naquele zoneamento conflitam com o interesse das empresas, de plantar onde querem e como querem, e com cobertura do governo”, diz.

O zoneamento ambiental da Fepam dividiu o Rio Grande do Sul em 45 regiões, indicando desde a existência de sítios paleontológicos e comunidades quilombolas, e restringindo o plantio em áreas de preservação ambiental, banhados e morros testemunho.

As empresas querem diminuir a distância permitida para o plantio e liberar o cultivo em áreas rochosas, entre outras mudanças. Para o professor Buckup, o que está ocorrendo é uma corrida perigosa pelo desenvolvimento econômico da Metade Sul, sem levar em conta os danos ambientais que serão causados pelos monocultivos.

“As empresas, no seu propósito, não acenam com nenhuma medida que realmente leve em conta a preservação ambiental. Elas querem plantar e colher, não importa onde nem como e a que custo. Os custos ambientais eles desconhecem, não querem. As manifestações, especialmente da Ageflor, são todas neste sentido. O que importa é aquilo que tem sido anunciado, até pelo governo, do resgate econômico da Metade Sul a qualquer custo, nem que seja o custo ambiental. Por isso, a única alternativa que existe agora é que o zoneamento ambiental seja respeitado, e de que forma alguma seja prorrogado o Termo de Ajustamento de Conduta”

As empresas também pressionam para prorrogar o prazo do Termo de Ajustamento de Conduta (TAV), proposto pelo Ministério Público Estadual, que liberou o plantio de eucalipto e pínus temporariamente.