Ato pela libertação de Marcelo Buzzeto lota auditório na PUC

Centenas de pessoas participaram ontem, dia 1°, do Ato pela Libertação de Marcelo Buzzeto. O ato aconteceu na PUC-SP e contou com a presença de professores, estudantes e militantes de diversos movimentos sociais. Palavras de solidariedade e de indignação deram o tom da maioria dos discursos.

O grande mérito da atividade foi reunir em um único espaço pessoas dos mais diferentes segmentos e movimentos sociais. “Marcelo tem uma posição rara de não ser sectário e é por isso que hoje aqui tem tantas diferentes entidades e organizações”, lembrou Paulo Barsotti, professor da Fundação Santo André.

Não por acaso, o ato reuniu desde torcedores da organizada Gaviões da Fiel até intelectuais do corpo docente da PUC e de outras universidades. Além de representantes do Movimento Estudantil, do Movimento Negro, do Movimento de Mulheres, dos pequenos agricultores e do MST.

Os oradores aproveitam para mostrar indignação diante da perseguição do Estado aos atores políticos e da criminalização dos movimentos sociais. Para o dirigente do MST, Geraldo Gasparin, a burguesia criminaliza a luta e os lutadores. “Mas nós acreditamos que um dia os cárceres serão usados para prender àqueles que impedem a transformação da nossa sociedade”, disse. Quem também fez parte da mesa foi o advogado do MST Aton Fon.

O estudante de jornalismo da PUC, Pedro Ribeiro, disse que a repressão contra os movimentos sociais, mais do que uma repressão ao indivíduo, representa uma forma de dominação e manutenção do poder.

Na mesma linha, o professor do departamento de jornalismo da PUC, José Arbex, falou da importância de não tratarmos a luta pela libertação dos presos políticos como uma luta individual e sim como uma luta de classes. “Nós temos que tratar a luta pela libertação de Marcelo Buzzeto, como uma luta de classes. Porque ele não foi preso porque saqueou um caminhão de comida, mas porque ousou ir contra o Estado burguês. Nossa luta então, é também pela derrota do Estado burguês”, afirmou.

Ao final do debate representantes do Movimento Hip Hop Brasil fizeram um rap em homenagem aos lutadores da América Latina. O rapper Sagaz, do Espírito Santo, cantou “pela supremacia dos povos oprimidos”.

Comitê

Para o professor Lúcio Flávio de Almeida, um dos organizadores do ato pela libertação de Buzzeto e membro do Comitê contra a Criminalização dos Movimentos Sociais e pela Liberdade dos Presos Políticos, disse que a atividade de ontem superou em muito as expectativas. Ele também falou da necessidade de dar continuidade aos atos e manifestações e da importância de tentar reunir um número cada vez maior de atores políticos, entidades e organizações.

Nesse sentido uma reunião ampliada do Comitê foi agendada para a próxima segunda-feira, dia 5, às 18 horas, na Pró-PUC. A expectativa é reunir o maior número de entidades possíveis, como sindicatos e associações diversos, inclusive, as que não estiveram presentes nesse primeiro ato. O objetivo da reunião ampliada do Comitê é reunir forças e organizar um ato público na rua, com data prevista para o dia 15 de março.

A prisão

O professor universitário e membro da direção estadual do MST, Marcelo Buzzeto, foi preso no dia 21 de janeiro. Ele é acusado de saque após participar de uma mobilização organizada pelas 800 famílias do acampamento Nova Canudos, em Porto Feliz (SP), em 1999. Na época chegou a ficar detido durante 28 dias, mas conseguiu o direito de responder ao processo em liberdade.

Em 2006 ele foi condenado a seis anos e quatro meses de prisão em regime semi-aberto, cumprindo a pena em regime domiciliar até que surgisse uma vaga. Apesar de contar com um recurso em análise no STF, Buzetto foi detido em janeiro, quando compareceu ao Fórum para assinar sua carteira, sob alegação de ter surgido uma vaga no regime semi-aberto. Após alguns dias no distrito policial de São Caetano, ele foi transferido para o CPP de São Miguel Paulista, onde permanece até hoje.

O processo que condenou o professor é recheado de irregularidades, entre as quais, o uso de testemunhas plantadas pela acusação. Além disso, mesmo tendo direito a cumprir sua pena em regime semi-aberto, ele se encontra em regime semi-fechado, sem autorização a realizar trabalho externo e em cela comum, apesar de sua formação superior.

Além de Buzzeto o trabalhador Benedito Ismael Alves Cardoso, o Magrão, também está preso em São Paulo, acusado de participar de uma manifestação em um pedágio da rodovia Castello Branco, em Boituva, em novembro de 1999. Há irregularidades também nessa prisão uma vez que, Magrão deveria cumprir sua pena em regime aberto, já que pelo tempo em que permaneceu na cadeia, tem direito à progressão penal.

Leia também o texto do professor Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida