Para Cappio, povo ainda pode impedir “obra desvairada”

O bispo D. Luiz Cappio, da diocese de Barra (BA), acredita que ainda é possível barrar o projeto de transposição das águas do São Francisco para o nordeste setentrional.

“A organização dessas pessoas é uma prova de que podemos, sim, impedir essa obra desvairada, insana, e mostrar ao Brasil e ao mundo a força que o povo tem”, disse, em referência ao acampamento “Pela vida do Rio São Francisco e do Nordeste contra a transposição”, que terminou na sexta-feira em Brasília.

Para ele, o debate deve incluir toda a sociedade, que tem o direito de se envolver na discussão. “Nós que somos diretamente ligados ao Rio temos sugestões a fazer, idéias a trocar. Gostaríamos que a decisão não fosse tomada entre 4 paredes, por meia dúzia de cabeças”, disse.

Durante uma semana, 600 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, representantes de organizações, movimentos e comunidades da Bacia do Rio São Francisco trocaram experiências, estudaram biomas brasileiros, participaram de audiências e se manifestaram a favor da revitalização, a partir de experiências de convivência com o semi-árido e o fim do projeto de transposição do Rio.

“Conseguimos dar visibilidade à questão da importância da revitalização, além de demonstrar que existem, sim, alternativas à transposição muito mais eficientes para o problema do Semi-Árido”, disse Alzení Tomaz, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).

Segundo ela, as audiências realizadas no STF (Supremo Tribunal Federal), na Câmara e no Senado conseguiram sensibilizar ministros, assessores e até os presidentes das duas casas do Congresso Nacional.

Por outro lado, ficou o sentimento de decepção em relação ao governo Lula. “O que mais nos entristeceu foi não termos sido recebidos no Palácio do Planalto. A máscara do governo, um governo em que nos reconhecíamos como parte, caiu. Acabaram-se todas as possibilidades de participação popular”, concluiu Alzení Tomaz.

O cacique dos índios Tingui-Botó, Marcos Sabaru, garantiu que a população não se dobrará ao projeto de transposição do rio. “Se o governo continuar teimando, nós vamos continuar acampando, quantas vezes forem necessárias”.