Avanço da soja transgênica amplia uso de glifosato

A disseminação do plantio da soja transgênica no país tem provocado uma forte elevação no uso de agrotóxicos nos últimos anos. De 2000 a 2005, o consumo dos 15 principais ingredientes ativos contidos em herbicidas utilizados na soja aumentou 60%, apontam dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

O volume saltou de 59,5 mil para 95,2 mil toneladas – em 2004, o consumo havia chegado a 102,3 mil toneladas, mas a crise do segmentos de grãos interrompeu a evolução. No mesmo período de cinco anos, a área plantada de soja avançou 59% no país.

O aumento foi provocado pelo maior uso de herbicidas à base de glifosato, um princípio ativo recomendado para a soja transgênica “Roundup Ready”, produzida pela multinacional Monsanto.

O consumo do produto avançou 79,6% no período 2000-2005. No Rio Grande do Sul, primeiro Estado a plantar transgênicos, o consumo de glifosato cresceu 85% – e a área semeada, 30,8%. “Há um aumento de consumo muito grande de glifosato, bem acima da expansão da área plantada e não equivalente com outros herbicidas”, afirma o geneticista Rubens Nodari, gerente de Recursos Genéticos do Ministério do Meio Ambiente.

De fato, quando se isola o glifosato dos demais herbicidas, o consumo cresceu 21,4% no período, enquanto a área plantada aumentou 59,1% até 2005. São ingredientes como trifluralina, imazetapir, lactofem, clomazona e cletodin.

“Os transgênicos não reduziram o uso de herbicidas. No Rio Grande, houve um aumento de 9 mil para 20,3 mil toneladas entre 2000 e 2004. Ou seja, uma variação quatro vezes maior que a elevação na área plantada”, afirma o agrônomo Luiz Carlos Balcewicz, especialista da Diretoria de Conservação de Biodiversidade do Ibama.

Segundo Balcewicz, como em 2005 a crise do setor agrícola distorceu os resultados, também houve uma redução no consumo. “O uso intensivo do mesmo ingrediente ativo causa desequilíbrio nas espécies, além de resistência em plantas daninhas, e reduz biodiversidade”, afirma.

Os dados do Ibama apontam que em Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, a utilização dos 15 principais herbicidas usados no grão cresceu 87,4% no período – de 7,5 mil para 14 mil toneladas. No glifosato, o crescimento chegou a 94%. Nos cinco anos, a área plantada do Estado cresceu 88,8%, passando de 3,1 milhões para 5,9 milhões de hectares. No Paraná, onde o governo estadual tenta inibir o plantio de transgênicos, o crescimento dos agrotóxicos foi bem menor: apenas 6,8% em cinco anos. Em glifosato, a elevação foi de 7% no período.

Até mesmo quem defende o uso da biotecnologia no país admite o crescimento da utilização dos agrotóxicos. “É uma tendência no mundo todo. Há um acréscimo mesmo. Metade da soja brasileira é transgênica. É uma questão lógica. Se é transgênica, vai usar glifosato”, afirma o agrônomo Edilson Paiva, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.

Doutor em biologia molecular e membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, Paiva ressalva a menor agressividade do glifosato ao meio ambiente. “É um herbicida de classe menos tóxica e ajuda a reduzir o uso dos defensivos mais tóxicos. A vantagem na segurança alimentar é que os humanos poderiam até beber e não morrer porque não temos a via metabólica das plantas. Além disso, ele é biodegradável no solo”.

De acordo com ele, a soja transgênica não resulta em aumento de produtividade das lavouras, mas “dá mais flexibilidade” ao produtor ao racionalizar tratos culturais e diminuir riscos e custos. “Mas as coisas complicam porque a multinacional não só fez o transgênico como amarrou ao produto dela”.

Fonte: Valor On Line