Agrocombustíveis, quem ganha e quem perde com a “energia limpa”?

Nos últimos meses, o tema dos agrombustíveis, chamados pela imprensa de biodiesel e biocombustíveis, ganhou as páginas dos jornais. Sobretudo, depois que os capitalistas dos Estados Unidos vieram com toda sua força ao Brasil para forçar o país a aumentar a produção de etanol, com a cana-de-açúcar, e a assinar um contrato para vender tudo para eles.

Vamos, então, entender em que pé está essa proposta de produzir combustíveis a partir da produção agrícola. Uma proposta que pode afetar a vida de todo mundo, de quem trabalha no campo, de quem produz e também de quem vive na cidade. Pelo desenvolvimento da tecnologia existente, pode-se extrair combustíveis para mover motores e daí fazer circular carros e produzir energia elétrica de três formas básicas.

Primeiro, extraindo o óleo de certos vegetais muito olegianosos, como a soja, o milho, a mamona, o girassol, o pinhão manso e o amendoim. Também é possível produzir óleo combustível a partir de algumas plantas que produzem sementes com muito óleo, como o azeite de dendê, que também é conhecida como palma africana.

Na verdade, esse óleo que tem dentro dos produtos é uma mutação química que transforma a energia solar em óleo. Esse óleo combustível, de origem vegetal, pode ser misturado ao óleo-diesel que, assim, vira o que vem sendo chamado de biodiesel. Mas também, com algum refino a mais, pode-se usá-lo sozinho como um óleo combustível e colocar direto no motor.

Segundo, produzindo um tipo de álcool, o etanol, a partir da cana-de-açúcar ou do milho. Esse álcool pode ser adicionado na gasolina ou colocado sozinho no motor. As duas coisas já vêm acontecendo no Brasil. E, terceiro, produzindo um tipo de álcool a partir da madeira. As arvores homogêneas, tipo eucalipto e que são utilizadas para celulose, podem também ser usadas para produzir álcool para os automóveis.

Súbito Interesse

Toda essa tecnologia já era conhecida há muitos anos. E é relativamente fácil de produzir o óleo e o álcool a partir de produtos vegetais, ou seja, de origem agroenergética. Por que ainda não se discutia seu uso? Por várias razões.

Uma delas é que se poderia utilizar esse combustível para tocar uma casa, uma comunidade no meio rural, com sucesso, como já vem acontecendo, há muitos anos, em muitas regiões da Europa.

Mas, produzir muito combustível para abastecer as cidades depende de uma escala maior, competindo com o uso do petróleo. Assim, somente com o preço do barril de petróleo acima de 80 dólares essas grandes usinas de agrocombustíveis teriam viabilidade.

Uma outra razão é que os países ricos estão localizados no hemisfério norte, mais frios, e com menos terras para produzir energia a partir da agricultura. Sendo assim, as empresas capitalistas desses países nunca se interessaram em desenvolver nos países do Sul. Era, como se fosse um grande potencial dos países do Sul, que eles não queriam deixar se desenvolver.

Por fim, agora, os governos dos países ricos estão mais assustados com o aquecimento global e a poluição causada pelo uso do petróleo. Dessa forma, acenam com a possibilidade de uso dos agrocombustíveis como uma maneira de dizer que estão preocupados com um problema que a sociedade cobra todos os dias.