Uma Cidade de Lona dentro de Brasília

Eduardo Sales de Lima e Jorge Pereira Filho,
Brasil de Fato

A capital federal ganhará um município temporário: a Cidade de Lona. Durante cinco dias, entre 11 e 15 junho, nele viverão 18 mil sem-terra vindos de 24 estados, e outros 200 delegados de 28 países. E não será um pequeno município. A população que irá usufruir dessa infra-estrutura montada para abrigar os participantes do 5º Congresso do MST será maior do que a de 2.686 cidades brasileiras, segundo o IBGE.

Rumo à Brasília do país são mais de 350 ônibus, além dos carros de passeio e dos caminhões de serviço. A Bahia é o Estado de onde se espera o maior número de delegados, 2 mil. Na preparação dessa Cidade de Lona, já estão no Distrito Federal cerca de 100 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), responsáveis por organizar o Congresso na prática, no seu dia-a-dia, como o setor de transporte, de alimentação, de educação das crianças, entre outros.

A infra-estrutura está sendo construída ao lado do estádio Mané Garrincha e do ginásio Nilson Nelson, onde ocorrerá o encontro. “Tudo tem que ser pensado para ter o tamanho de uma cidade de 18 mil habitantes, onde as pessoas fazem diversas atividades ao mesmo tempo como tomar banho, alimentar-se, etc. Todos estamos acostumados com essa disciplina”, explica Henrique Marinho, da coordenação de Infra-Estrutura do Congresso.

Na montagem dessa Cidade de Lona, o MST conta com a experiência dos seus 23 anos de história, organizando acampamentos na luta pela terra no Brasil. O desafio, desta vez, é promover um cotidiano seguro aos 18 mil participantes do Congresso, entre eles 1500 crianças. “O MST está maduro o suficiente para ter essa organicidade”, explica Henrique.

Os bairros deste município serão as próprias localizações de origem das delegações “Trata-se da lógica distributiva. Classificamos a Grande região, o Estado e a delegação. Por meio dos ônibus, a gente consegue ter a noção de credenciamento, do número de crianças, de idosos”, explica Henrique. Serão utilizados 14,9 mil metros de lona preta. Cerca de 50 caminhões pipa e 18 caixas d’água de mil litros abastecerão as 140 cozinhas desta Cidade de Lona.

O sistema de esgoto próprio da Cidade Lona já está integrado ao da cidade de Brasília. A cozinha foi conectada a uma caixa de gordura provisória que, por sua vez, está ligada à rede de esgoto da cidade. Como todo município que se preze, a Cidade de Lona terá corredores de acesso aos prestadores de serviços, corpo de bombeiros, ambulância, e amplo sistema de energia elétrica. Os acampamentos foram montados de modo a privilegiar a ventilação, com amplo espaço entre as famílias.