MST encerra seu 5° Congresso e reafirma luta pela Reforma Agrária

Mayrá Lima e Daniel Cassol,
da Redação

Em um clima de muita poesia, as atividades do 5º Congresso do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) finalizaram na sexta feira, dia 15. Além do estudo sobre os valores humanistas que norteiam a organização e da bela mística de encerramento, o Movimento reafirmou a necessidade de fortalecer as alianças com movimentos da cidade e de lutar contra o atual modelo econômico, condições primeiras para que o programa de Reforma Agrária, discutido durante o Congresso, possa ter possibilidades de concretização.

No próximo período, o MST vai priorizar o fortalecimento de alianças com setores organizados e ampliar o diálogo com a sociedade, para defender a mudança no modelo econômico, que concentra poder e riqueza, atinge os trabalhadores e traz conseqüências quase irreversíveis ao meio-ambiente. Essas intenções foram formalizadas na Carta do 5º Congresso Nacional do MST . Segundo Fátima Ribeiro, da direção nacional, o momento é de reunir o conjunto das forças sociais na defesa de um outro modelo de desenvolvimento. “Não é papel apenas do MST, mas do conjunto das organizações populares do Brasil”, afirmou.

Para Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento, o documento – organizado em 18 pontos – é uma “agenda propositiva” e será apresentada às organizações populares. No texto, estão pautados temas como a defesa dos direitos dos trabalhadores, o combate às transnacionais do agronegócio, a limitação do tamanho de propriedade rural, o fim do trabalho escravo e da violência no campo e a desapropriação de latifúndios de empresas estrangeiras e bancos.

A carta também enfatiza a questão ambiental, ao defender a preservação da biodiversidade, da água e das florestas. O MST, que tem na educação uma das suas prioridades, também defende o acesso dos trabalhadores à educação e propõe uma campanha pela erradicação do analfabetismo no Brasil. Como forma de romper com o monopólio da mídia, a carta defende a democratização da comunicação, por meio da criação de meios comunitários como rádios e TV.

O MST também reafirma, no documento, sua posição contrária à transposição do rio São Francisco e defende o controle dos camponeses sobre os agrocombustíveis. No segundo semestre, o movimento também se dedicará, com outras organizações, à realização de um plebiscito popular pela anulação da privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Além de outras agendas em comum que serão construídas com outros movimentos de trabalhadores.

O V Congresso do MST, maior da história do movimento, reuniu trabalhadores rurais de 24 estados do Brasil, além de 181 convidados internacionais de 31 países.

Humanismo

Nas atividades do último dia de Congresso, ainda houve espaço para debates. Pela manhã, o monge beneditino Marcelo Barros, e o membro do MST, Ademar Bogo foram os convidados para debater os valores humanistas que norteiam a organização.

Em sua fala, Marcelo Barros propôs que a “mãe Terra” abençoasse os participantes do Congresso, ao mesmo tempo em que criticou o capitalismo vigente no mundo que provoca o individualismo e a transformação da terra em mercadoria. “Se nós resistirmos a todos os decretos de exploração, se nós resistirmos a todos os decretos de opressão é por que nós temos uma missão de liberdade”, explicou.

De acordo com Barros, o MST é pioneiro em ações que negam esquemas de explorações comuns ao neoliberalismo. As práticas de economia solidária e cooperativismo foram os exemplos utilizados de formas de respeito aos trabalhadores e de diálogo com a terra. “Ao invés de comprar a última quinquilharia do capitalismo, nós produzimos poesia e companherismo”, disse.

Já Ademar Bogo apresentou as principais bases que sustentam o projeto de cultura do MST para uma transformação sócio-cultural do camponês organizado. Bogo destacou a forma coletiva que o Movimento tem para formular idéias e pensamentos e destacou as crenças num Estado Popular. “Eles não podem nos tirar o direito de construir uma sociedade socialista”, afirmou sob os aplausos acalorados de toda plenária.

Dentre as bases apresentadas por Bogo, três aspectos foram destacados o caráter popular, a cultura que abre espaço para o respeito ao gênero e, por último, o sistema socialista como base para a formação da sociedade. “Nós não produziremos comida para os carros da sociedade. O nosso projeto é anticapitalista e antiimperialista”, afirmou.

“As nossas tarefas são muitas. Destaco a de preparar militantes sensíveis com ética e sensibilidade com todos os seres da natureza, o de organizar e conscientizar o povo para a luta, além de formular idéias; forçar a imaginação para buscar respostas ao que a sociedade precisa. Nós precisamos contestar o capital, enfrentar o Estado capitalista e investir no relacionamento humano”, conclui.