Via Campesina faz seminário sobre agronegócio no Maranhão

A preocupação com o avanço do agronegócio sobre a Amazônia foi o tema do segundo seminário do Ciclo de Debates promovido pela Via Campesina através das entidades que a compõem, entre elas a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e o MST. Para falar sobre o assunto foram convidados o professor Dr. Elder Andrade, da Universidade Federal do Acre (Ufac), e a professora Drª. Maristela Andrade, da Universidade Federal do Maranhão.

O seminário aconteceu no Auditório Che Guevara, na sede do Sindicato dos Bancários, na terça-feira, dia 27, e teve a participação de pessoas ligadas aos movimentos sociais, estudantes e professores. Para a Via campesina, o Maranhão é um dos estados considerado estratégico para a agrobiodiversidade mundial, por isso ao se considerar a problemática atual do modelo produtivo e tecnológico do agronegócio que se expande de forma intensa no nosso estado, é imprescindível o estudo e debate acerca dessa questão por parte dos movimentos sociais.

“O crescimento do agronegócio é inversamente proporcional à perda da soberania sobre a Amazônia”, com essas palavras o professor Elder deu início à palestra, que continuou pontuando os inúmeros problemas conseqüentes da apropriação e expansão do mercado sobre os bens naturais, principalmente na Amazônia. Segundo ele, o mesmo agronegócio se utiliza do trabalho escravo num processo de colonização que nunca teve e não terá fim: “é uma tendência de retorno às origens na medida em que os estrangeiros através das multinacionais voltam a dominar e explorar nossos recursos”.

Biodiversidade e agronegócio são palavras novas, mas que definem práticas antigas na vida do camponês. O campesinato, aliás, tem uma lógica distinta do mercado sobre uso dos recursos da terra, o que acaba gerando o confronto pelo qual passamos hoje. “Para vencer essa batalha os movimentos sociais, principalmente os ambientalistas, precisam estar do lado dessas pessoas que preservam um modo de vida todo particular, uma cultura do campo que foi acumulada e preservada durante todos esses séculos”, avalia Elder.

A professora Maristela Andrade, da UFMA, reforçou o ataque que o agronegócio faz não só à biodiversidade, mas a todas as relações sociais dos grupos camponeses junto com o saber local. Acrescentou ainda a promiscua relação que já se pode ver entre o agronegócio e a ciência, a partir de fomento para o desenvolvimento das pesquisas através de instituições como o CNPQ: “o que agronegócio faz é diferenciar o que há de moderno (pretensiosamente representado por eles) com o que chama de tradicional, atrasado, ignorante, preguiçoso. Criam assim uma falsa idéia de salvação para todos os males sociais”, acrescenta ela.

O ciclo de debates tem o apoio do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da UFMA, o Mestrado em Agroecologia da UEMA e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Compõem a Via Campesina no Maranhão, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, MABE, CIMI, Cáritas, MIQCB, ASSEMA, CPT, MST e CNBB.

O próximo debate acontece no dia 30 de agosto e terá como tema “O agronegócio, a precarização do trabalho e o papel do Estado”.

(Texto: Celso Serrão, do Maranhão)