Cultivando Biodiversidade

Por José Maria Tardin*

Cuidando da Terra, Cultivando Biodiversidade, Colhendo Soberania Alimentar. A Agroecologia é uma realidade se expande a cada ano no Paraná, no Brasil e no Mundo.

São milhares de homens e mulheres trabalhando no campo na reconstrução das bases ecológicas da agricultura, revitalizando formas organizativas tradicionais de cooperação, lutando pela terra, buscando avanço e qualificação na cooperação no trabalho e na gestão da terra e demais recursos naturais, e na conquista da sua emancipação.

Derrotar o latifúndio, não se intimidar frente à violência de seus pistoleiros, não se curvar às empresas transnacionais do agronegócio com suas tecnologias da morte – os agrotóxicos e os transgênicos e a nanotecnologia, colocam os homens e mulheres praticante da agroecologia, na defesa da Vida.

A Jornada de Agroecologia, como um longo tempo de luta e trabalho das famílias camponesas, revela ao grande público do Paraná e do Brasil, sua escolha corajosa e comprometida com as futuras gerações.

É dessa determinação que emerge a força consciente, a militância nas organizações, o trabalho cuidadoso com a terra, água, as florestas, sementes, animais, num modo de ser e trabalhar que assegura o sustento da vida e garanta a soberania alimentar com a oferta de alimentos saudáveis.
A articulação dos movimentos camponeses e das organizações de assessoria na Jornada de Agroecologia criou uma situação de lutas e mobilizações que fazem do Paraná a principal trincheira de resistência aos transgênicos das transnacionais.

Resistência que se concretiza nas ocupações dos camponeses e camponesas aos centros de pesquisas e produção de transgênicos da Monsanto, em Ponta Grossa no período de 2003 a 2004 e da Syngenta Seeds, Santa Tereza do Oeste, desde março de 2006, e na conquista de um conjunto de políticas adotadas pelo Governo do Paraná, destacando as leis coibitivas aos transgênicos; impedimento à exportação de transgênicos pelo Porto de Paranaguá, e o decreto de desapropriação do campo experimental da transnacional, ocupado pela Via Campesina, para a instalação de um centro de formação em agroecologia. Cabe lembrar a resistência conservadora do Poder Judiciário que sucessivamente tem concedido decisões a favor das transnacionais, suspendendo o efeito do decreto de desapropriação do Governo do Paraná.

A Jornada de Agroecologia é um espaço de estudos, debates, intercâmbios de conhecimentos, partilha de sementes e alimentos saudáveis, marcha pela agroecologia – Reforma Agrária e por uma terra livre de transgênicos e sem agrotóxicos.

A articulação internacional dos movimentos camponeses avança a cada ano, neste sentido, a Jornada de Agroecologia contribui de forma significativa, se constituindo em uma ampla articulação de movimentos camponeses e organizações não governamentais de assessoria que segue se ampliando além do estado, atraindo organizações da região sul e centro-oeste do país, além do Paraguai e Argentina, e em articulações nacionais como o Fórum Social Mundial.

No Brasil e no Paraná a agroecologia se realiza, devido ao esforço próprio das famílias camponesas e suas diferentes organizações locais, que desde os anos 80, passaram a contar com o apoio de organizações não governamentais, e finalmente nos anos 90, são incluídas no programa político das organizações camponesas como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), e as Pastorais da Terra e da Juventude Rural, Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF) e a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB).

Frente à carência de técnicos em agroecologia e a total ausência do Estado na solução dessa necessidade, os movimentos camponeses articulados na Via Campesina, tomaram para si o desafio estratégico e criaram escolas técnicas. No Paraná, o MST criou três escolas de nível médio: o Centro de Desenvolvimento e Capacitação em Agroecologia (Ceagro), em Cantagalo, Escola José Gomes da Silva, em São Miguel do Iguaçu, Escola Milton Santos, em Maringá. O movimento também coordena a Escola Familiar Rural Padre Sasaki, em Sapopema. A Via Campesina Brasil, criou a Escola Latino-Americana de Agroecologia, na Lapa, de nível superior, todas em parceria com a Universidade Federal do Paraná.

A presença do Estado no apoio às famílias camponesas que praticam a agroecologia tem se restringido a iniciativas políticas pontuais e dispersas. São ações desarticuladas, que não permitem a criação de uma política sistemática, permanente e estruturante, que contasse com orçamento anual voltado para a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, o ensino técnico e universitário, os serviços de assessoria técnica e de formação de camponeses e camponesas, fomento e crédito subsidiados, abastecimento popular, realização de ampla Reforma Agrária, democratização do acesso à água, o uso sustentado e conservação das florestas nativas, entre outros, a exemplo do que vem sendo formulado e pautado junto as autoridades governamentais por iniciativa da Jornada de Agroecologia nos últimos anos.

Principais desafios da Jornada de Agroecologia para o próximo período:

1 – Ampliação de articulação com organizações do campo e da cidade no Paraná e no Brasil, para a formulação de um projeto popular agroecológico para o campo;

2 – Lutar de forma permanente contra o latifúndio, a violência e a impunidade no campo, o trabalho escravo; e combater o agronegócio dos fazendeiros e das transnacionais;

3 – Apoiar a manutenção da ocupação do centro de pesquisa e produção de transgênicos da Syngenta, cobrar a condenação da transnacional pelos crimes ambientais e a desapropriação da área para a criação de um centro de formação em agroecologia.

*Técnico Agroepecuário, integrante da Via Campesina.