Fundações privadas estão assumindo controle sobre sementes crioulas

Carla Cobalchini
do Paraná

“Não estamos nos dando conta da forma com que as empresas manipulam nossos alimentos”. Em tom de denúncia, o professor Sebastião Pinheiro relata que temos cada vez menos controle sobre a produção de alimentos no mundo. Ele contou o caso do México, onde sementes crioulas estão sendo depositadas no Centro Internacional do Milho e do Trigo, que não pertence ao governo mexicano e sim à Fundação Rockefeller.

O Centro foi criado por Henry Wallace para aniquilar a resistência campesina que exigia Reforma Agrária naquele país. Isso significa que, no México, considerado berço do milho, as sementes crioulas estão sob poder de uma fundação privada que as manipula e exige uma espécie de pedágio para que os agricultores possam utilizá-las.

A Fundação Rockefeller, dona do milho no México, também possui centro depositários de sementes de feijão na Colômbia. O mesmo presidente da Fundação também é o dono do Banco Central Americano, que por sua vez, é o principal gestor do Banco Mundial. O capital industrial transformou os alimentos em matéria-prima. Os agricultores estão sendo obrigados a produzir matéria-prima para as agroindústrias e, para consumir esses alimentos, devem passar pelas máquinas registradoras.

Enquanto isso, as universidades reproduzem o discurso dominante e formam profissionais capazes de inserir o restante da população na lógica de mercado.

“Falamos em poluição, em biocombustível, mas ignoramos que o uso de herbicidas na agricultura é responsável por 78% do buraco na camada de ozônio. Também ignoramos que todo o eucalipto que está sendo plantado na América não será utilizado na produção de papel e sim na produção de combustível através da fermentação da celulose. Porém, as indústrias responsáveis pelo processamento dessa matéria-prima são européias e norte-americanas, portanto, a América Latina não terá nenhum controle dessa nova fonte energética”, diz.

Para o enfrentamento dessa situação, o professor Sebastião Pinheiro aposta nos movimentos que defendem a agroecologia integrados com o homem urbano. E ainda medidas simples como a incorporação de alimentos orgânicos na merenda escolar, aproximando crianças e agricultores que zelarão pela produção de alimentos saudáveis.