Agrofloresta: cultivo diversificado e preservação florestal

Carla Cobalchini,
Cascavel (PR)

Sensibilizar as pessoas para a agrofloresta, um modo que se aproxima muito do sistema natural, através de experiências já vivenciadas por agricultores. Essa foi a intenção da oficina de Sistemas Agroflorestais promovida pela Assessoar – Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural – no terceiro dia da 6° Jornada de Agroecologia, em Cascavel (PR). A Assessoar trouxe um vídeo com falas de vinte agricultores de dez municípios do sudoeste do Paraná, que iniciaram experiências agroflorestais em 2003.

O engenheiro agrônomo Serinei Cesar Grigolo, da equipe da Assessoar, explica que a agrofloresta é uma prática que prevê cultivos diversos na mesma área proporcionando colheitas em dez, vinte, quarenta anos, e permite ao mesmo tempo a preservação da floresta e a sobrevivência das famílias camponesas.

Os pequenos agricultores, que são um alvo mais vulnerável da fiscalização, questionam a legislação porque por muito tempo colaborou com o desmatamento enquanto os camponeses praticavam a agroecologia. Hoje, esses mesmos camponeses são os primeiros a receber multas e punições. A própria assistência técnica os incentivava a construir chiqueiros sobre os açudes, e agora a lei manda retirar implicando num alto custo para essas famílias.

Ao mesmo tempo, a monocultura e a aplicação de agrotóxicos também ameaçaram a preservação do meio ambiente e, no entanto, não há regulamentação que restrinja essa prática. Grigolo afirma que para preservar a natureza não basta manter a mata ciliar ou as áreas de preservação permanente se existe um sistema de produção altamente contaminante: os agrotóxicos e a monocultura. A legislação ainda trata da mesma forma, pequenas e grandes propriedades e apresenta muitas falhas; é proibitiva, punitiva e não está disposta a dialogar e construir uma solução com a sociedade.

Na agricultura familiar o camponês precisa sobreviver na área que reside e preservar aquele espaço. O mecanismo da agrofloresta é uma alternativa para isso.

Reflorestamento

Hoje, as opções de reflorestamento existente no Brasil são pinus e eucalipto, que são plantas exóticas (não pertencentes ao bioma). Segundo Grigolo, são conhecidas experiências de outros países que pesquisaram espécies nativas, desenvolvidas e melhoradas pela pesquisa. Logo essas espécies foram adaptadas ao bioma local. Essa adaptação de plantas nativas é mais adequada à preservação ambiental do que as espécies exóticas.

No Brasil é proibido cortar qualquer árvore nativa; é necessário requerer uma licença mesmo quando a árvore for utilizada para a construção de uma casa, por exemplo. Se numa determinada área nasce um pinheiro e o agricultor avalia que no futuro pode atrapalhar algum cultivo, ele já mata a planta porque sabe que dificilmente obterá uma licença mais tarde. A própria legislação força os agricultores a fazerem isso, pois, se pensassem que poderiam cortar mais tarde esse pinheiro e outros, deixariam crescer todas as árvores que viriam espontaneamente. Enquanto não existir uma garantia da lei, as nativas ficarão cercadas, presas apenas na reserva permanente, fora disso não haverá nenhuma espécie nativa.

Para Grigolo, “nós precisamos de pesquisa, cada região tem algumas espécies que desenvolvem bem. No sudoeste nós temos o louro branco, o louro preto, a canafístula, o cedro, que são madeiras que tem um crescimento relativamente rápido e podem ser usados para móveis, são madeiras duras, são fortes enquanto pinus e eucalipto são consideradas madeiras fracas.” Durante a oficina, os agricultores manifestaram forte disposição em praticar a agrofloresta, foram sensibilizados pela proposta da Assessoar e lançarão a mesma idéia nas comunidades onde vivem.