Integração latino-americana encerra a 6° Jornada de Agroecologia

Pedro Carrano,
de Cascavel (PR)

A Jornada de Agroecologia, organizada pelos movimentos sociais que compõem a Via Campesina, chegou ao final da sua 6ª edição. O encerramento aconteceu no último sábado, 14, no assentamento Olga Benário, em Santa Teresa do Oeste, próximo ao campo experimental de transgênicos da multinacional suíça Syngenta Seeds. O local havia sido ocupado pela Via no ano passado, por estar localizado na zona de amortecimento do Parque Iguaçu.

Além das famílias que vivem no assentamento, o Olga Benário também abriga as 70 famílias do acampamento Terra Livre, que se encontravam acampadas na área da Syngenta. Elas se retiraram da área ocupada na semana passada, depois de um recurso da empresa reconhecido pela justiça.

O encerramento da Jornada apresentou a mística feita justamente com as sementes produzidas no Terra Livre, sem a presença de transgênicos. Depois foi a vez da fala do candidato a presidente do Paraguai, Fernando Lugo, representante de movimentos sociais paraguaios e do trabalho de base da Igreja. Lugo abordou o tema “Integração dos Povos. A Construção da Nossa América”.

Um continente unido, como frisou Lugo, não é um ideal novo. Na verdade o Paraguai chegou a colocá-lo em prática quando, depois da independência, privilegiou o comércio com as regiões vizinhas.

Aplaudido por militantes do movimento social paraguaio presentes no local, e que cantavam “Lute, lute, lute, não deixe de lutar, por um governo operário, camponês e popular”, Lugo falou do contexto latino-americano que levou à presidência dos países um ex-operário, um indígena, algo impensável noutra época.

Com o título a “Ética do Cuidado”, a programação da manhã encerrou-se com a fala do teólogo Leonardo Boff, ressaltando a necessidade do trabalho em forma de cooperativas.

Jucimar Zuchi, técnico em agroecologia, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ressaltou que o evento deste ano cresceu em quantidade e também na construção coletiva das organizações que compõem Via Campesina.

Zuchi falou também sobre a dificuldade de adotar o modelo da agroecologia e a necessidade de capacitação de técnicos – dos próprios movimentos – para realizar este trabalho. “As escolas de agroecologia resgatam o conhecimento e dão mais consistência para as pessoas se libertarem. A Jornada também é um destes espaços”, afirma.

A coordenadora estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) concorda que um dos destaques foi a construção coletiva dos movimentos. “O evento foi produtivo pela união da Via Camponesa em si, não só o trabalho do MST, ou do MAB. A cada jornada a gente vê a realização do trabalho que a gente realiza na base”, afirma.

Na avaliação de Maria Rita Reis, advogada da Terra de Direitos e membro da organização da Jornada de Agroecologia. “A Jornada de Agroecologia se consolidou não como um evento, mas como um processo, então a gente percebe que as pessoas já têm esse compromisso de trazer para a jornada esta experiência acumulada durante o ano, trocar experiências e sementes para intercambiar, isto demonstra a viabilidade da Jornada de Agroecologia na prática cotidiana dos agricultores. É um processo difícil, que tem contradições, mas se você for comparar com seis anos atrás, hoje os agricultores são mais convencidos da necessidade de buscar alternativas”, avalia.