Cortadores de cana da Destilaria Araguaia continuam presos

Passados mais de 20 dias, os 14 trabalhadores da Destilaria Araguaia continuam presos. Eles foram presos no dia 23 de junho, no presídio de Porto Alegre do Norte, Mato Grosso, após manifestação nas dependências da destilaria pelo atraso no pagamento de seus salários. A Destilaria fica no município de Confresa (MG).

Os trabalhadores estão sendo acusados de terem ateado fogo em pneus, durante a manifestação, e incursos no artigo 202 do Código Penal, acusados de invasão de estabelecimento industrial com a finalidade de paralisar suas atividades.

A Destilaria Araguaia é a mesma destilaria Gameleira que no ano passado trocou de nome e de razão social, na expectativa de limpar sua imagem depois de sucessivas ações do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que encontrou e libertou centenas de trabalhadores em situações análogas ao trabalho escravo.

Essa é a mesma destilaria que em junho de 2005, cerca de mil trabalhadores foram resgatados pelo Grupo Móvel. A reinauguração, ou melhor, à troca de razão social para continuar recebendo financiamento público e vendendo álcool à Petrobrás, compareceram dois governadores, o do Mato Grosso, Sr. Blairo Maggy, e o de Pernambuco, Sr. Jarbas Vasconcellos.

Em pronunciamento à Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, na sede da Comissão Européia, em Bruxelas, no dia 4 de julho, o presidente Lula defendeu ardorosamente o etanol e tentou rebater as críticas ao programa brasileiro. Uma das críticas mais comuns é de que a ampliação da produção brasileira de etanol poderá acelerar o desmatamento da floresta Amazônica.

O presidente respondeu a crítica afirmando “que apenas 0,4% do território brasileiro é usado para a plantação de cana-de-açúcar”. “E fica muito distante da Amazônia, região que não se presta para o cultivo da cana”. “Se a Amazônia fosse importante para plantar a cana, os portugueses que a introduziram no Brasil a tantos séculos atrás, já teriam feito e levado para lá.” (Da Agência Estado)

Enquanto o Presidente Lula defende o etanol, grandes latifúndios no Brasil estão sendo enquadrados por explorar trabalhadores. No dia 30 de junho, o Grupo Móvel do MTE flagrara e libertara 1108 trabalhadores que se encontravam em condições análogas à escravidão, na fazenda Pagrisa (Pará Pastoril e Agrícola S.A.), no município de Ulianópolis (PA), a 390 km de Belém, que produz cana. A ação foi libertou o maior número de trabalhadores desde a criação do grupo.

Os dois casos mostram que cresce na Amazônia o cultivo de cana-de-açúcar para produção do álcool combustível, e, revela também que junto com esse crescimento, aumenta o número de trabalhadores explorados e subjugados ao trabalho escravo. A expansão do etanol se torna responsável pela manutenção de altos níveis de desmatamento da região.

Diversas reportagens têm demonstrado que o preço da terra tem tido um aumento considerável devido à intensa procura em estados do Sudeste brasileiro para o cultivo de cana-de-açúcar. Áreas destinadas a pastagens estão se transformando rapidamente em canaviais empurrando os criadores de gado para áreas mais baratas na Amazônia.
Pesquisa realizada neste mês de julho pelo geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves da Universidade Federal Fluminense (UFF), no município de Luciara, MT, mostrou a repercussão de como este deslocamento é sentido na região. O valor do arrendamento de pastagens teve, no último ano, um aumento que variou entre 25 e 30%.

A política do governo federal é de total apoio ao agronegócio, com destaque particular nos últimos meses, ao etanol. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, essa política reforça, sobretudo, os usineiros, que no início deste ano foram qualificados de heróis pelo presidente Lula, e deixa em situação cada vez mais precária os trabalhadores.

A prisão dos 14 cortadores de cana da Destilaria Araguaia é o sinal claro de que não vão se tolerar ações de trabalhadores mesmo as que reivindiquem direitos, por mais simples que sejam, que possam paralisar ainda que momentaneamente as atividades da empresa. Até hoje, 19 de julho, os trabalhadores continuam presos.

Com informações da Comissão Pastoral da Terra