Aracruz persegue apoiadores da causa indígena no Espírito Santo

A transnacional Aracruz Celulose, aproveitando- se de seu poderio econômico, tem abusado desse instrumento na tentativa de desmobilizar aqueles que “ousam” se contrapor a sua lógica perversa de desenvolvimento. No Espírito Santo, a empresa tem realizado, por meio da Justiça, uma perseguição política aos militantes da causa indígena, que defendem a demarcação imediata de cerca de 11 mil hectares de terra indígenas sob posse da transnacional.

Os alvos dessa vez são o pastor Emil Schubert, o sindicalista Luiz Alberto (Betão), a professora Elza e a radialista Lígia Sancio. Eles estão sendo interpelados por um processo judicial, classificado de Interdito Proibitório, que impõe aos mesmos o pagamento de uma indenização à empresa por danos morais e físicos, caso não sejam cessadas suas manifestações políticas. “Estão tentando nos impedir, por meio de uma medida judicial, de expressar nossa posição política quanto às práticas irresponsáveis desta empresa”, diz a radialista Lígia, da Rede Alerta Contra o Deserto Verde.

Segundo conta, ela foi procurada na última segunda-feira, dia 16, por um oficial de Justiça, que lhe entregou uma Precatória da Aracruz. “Avisou-me de um prazo de apenas 15 dias para apresentação da minha defesa”, disse. De acordo com o prazo ela terá até o dia 2 de agosto para organizar sua defesa na Justiça. O julgamento, segundo informa o documento, será realizado na Vara de Vitória, para onde o caso foi transferido.

A ação se refere a outubro de 2005, quando os índios Tupinikim e Guarani – depois de esgotarem todos os mecanismos “burocráticos” de reivindicação dos 11.009 hectares que lhe são de direito – ocuparam a fábrica da Aracruz Celulose. “Estivemos presentes para testemunhar e fiscalizar a reação do Estado brasileiro, que em muitas vezes se deu de forma violenta”, diz Lígia.

A ação truculenta tanto por parte da empresa, quanto por parte do Estado brasileiro, pode ser medida pelo episódio de janeiro de 2006, quando a Polícia Federal, de forma violenta, destruiu duas aldeias e feriu 13 índios numa desocupação. A ação foi condenada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e por diversos organismos internacionais.

No documento entregue pelo oficial de Justiça consta ainda o nome de diversas pessoas, que na ocupação, estiveram presentes para dar apoio político aos indígenas. “Fui a primeira a ser notificada, porém, as pessoas supracitadas também receberão a precatória e terão que cumprir este mesmo prazo de 15 dias”.

As pessoas citadas no documento fazem parte da Rede Alerta Contra o Deserto Verde, movimento que há anos vem denunciando as ações da transnacional contra os indígenas no município capixaba de Aracruz, e, a expansão indiscriminada do plantio de eucaliptos nos estados do Espírito Santo e Rio Grande do Sul.