No Espírito Santo, quilombolas mantêm luta por demarcação de seu território

Desde o dia 23 de julho, cerca de 300 negros das comunidades quilombolas do Sapê do Norte, no Espírito Santo, estão ocupando o território do Quilombo de Linharinho, no município de Conceição da Barra. No local foi construído um grande acampamento, onde as famílias vão permanecer até a concretização da demarcação da área pertencente à Comunidade de Linharinho, tradicionalmente habitada pelos quilombolas, mas atualmente sob posse da empresa Aracruz Celulose.

Em maio deste ano, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) publicou no Diário Oficial da União uma portaria ministerial que identifica 9.542,57 hectares de terra como sendo território quilombola de Linharinho. No entanto, 82% dessa área foi tomada por eucaliptos da empresa Aracruz Celulose. Além da posse tradicional da área, os quilombolas também têm o reconhecimento legal de seu direito sobre a terra, fato que incentivou ainda mais a luta pela retomada do território. Atualmente, Linharinho é habitada por 48 famílias, numa área de apenas 147 hectares.

No acampamento construído na reocupação, foram montadas barracas, uma cozinha comunitária, um posto de saúde com ervas medicinais e uma rádio livre chamada “Luar”. Por meio do resgate da prática coletiva do mutirão, os quilombolas cortaram o eucalipto do local e plantaram diversas mudas de árvores nativas; também foram arrecadadas sementes crioulas, como incentivo à reconversão da terra em que se planta exclusivamente eucalipto num local em que se produza também alimentos. Diversas tradições das comunidades foram resgatadas no acampamento, como o jongo, ticumbi e a capoeira.

A luta pela retomada do território quilombola iniciou-se a partir da Comunidade de Linharinho, mas será ampliada para a conquista da área de outras comunidades. Os estudos de identificação do território das comunidades de São Domingos, São Jorge, Serraria e São Cristóvão estão sendo concluídos e as portarias sendo preparadas, o que representa um passo a mais nessa luta.

Desde o final da década de 60, as comunidades de negros tiveram suas terras invadidas pela Aracruz Celulose. Estima-se que 12 mil famílias habitavam a região do Sapê do Norte antes da chegada da empresa, e hoje restam apenas 1.200. Com a perda do território, perderam-se também muitas tradições e recursos naturais, que tentam ser resgatados à medida que os quilombolas avançam na sua luta pela retomada do território.

Fonte: Jornal da Rede Alerta Contra o Deserto Verde – ES