Mudança no clima pode acentuar seca no Nordeste

Produzir alimentos no Nordeste será cada vez mais difícil e o governo brasileiro precisa se preparar para fazer investimentos de peso em irrigação na região. O alerta é da Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM), que aponta para os efeitos das mudanças climáticas como sendo responsáveis por esse novo cenário nos Estados que já sofrem com seca. A entidade ainda diz que as mudanças climáticas podem se tornar uma séria ameaça à oferta de alimentos para populações mais pobres.

“Devemos esperar uma maior desertificação e salinização das terras do Nordeste nas próximas décadas”, afirmou M.V.K. Sivakumar, chefe da Divisão de Meteorologia Agrícola da entidade. Segundo ele, a produção agrícola tende a ficar mais difícil até mesmo na bacia do Rio São Francisco.

“Os efeitos começarão a ser sentidos em cerca de 10 anos, mas devem continuar com maior intensidade até 2050.” Até lá, o governo deve se preparar para tomar pelo menos duas medidas: garantir a irrigação da região e adotar uma estratégia de gestão da água disponível no Nordeste. “Isso será fundamental para a agricultura no Nordeste”, afirmou Sivakumar, considerado um dos principais pesquisadores sobre o impacto das mudanças climáticas sobre a agricultura.

“Veremos um volume menor de chuvas no Nordeste e isso certamente terá um impacto na terra e na produção da região.” De acordo com o IBGE, o Nordeste tem 51 milhões de habitantes. Segundo a OMM, os efeitos não serão sentidos apenas pelos agricultores, mas pelas populações das grandes cidades da região que dependem do abastecimento de alimentos. E estudos apontam para um encarecimento dos produtos.

A OMM afirma que a perda de terras será um fenômeno mundial nas próximas décadas. Hoje, apenas 11% da superfície do planeta é cultivável. O problema é que, até 2020, a população mundial atingirá 8,2 bilhões de pessoas ante os atuais 6,3 bilhões. O tema fará parte da conferência da ONU que começa na segunda feira em Madri, para tratar do futuro do solo do planeta para a agricultura.

Fonte: Jamil Chade, jornal O Estado de S. Paulo