Jovens do MST encontram alternativas na agroecologia

Dirceu Pelegrino,
de Santa Catarina

Construir uma alternativa para viver bem no campo, com a produção de alimentos saudáveis e uma relação de harmonia entre os seres da natureza está sendo a saída encontrada por jovens que vivem nos assentamentos de Reforma Agrária em Santa Catarina. A produção de sementes agroecológicas para a Bionatur incentiva os jovens que, já estão percebendo na agroecologia, uma alternativa de gerar renda e qualidade de vida no campo.

Seis grupos de quatro municípios catarinenses realizam, desde 2005, o trabalho de produção de sementes agroecológicas. O primeiro que iniciou o trabalho foi o grupo de jovens do município de Fraiburgo, no Planalto Central do estado. Eles fazem parte da primeira turma do curso de Técnico em Agropecuária Agroecológica da Escola Agrícola 25 de Maio, localizada num assentamento do MST.

A produção de sementes foi uma tarefa recebida como tema de aula. Desde então, os jovens fazem a rotação de culturas e seleção de plantas para o melhoramento de sementes. As sementes produzidas são de cenoura, couve manteiga, couve flor, alface, abóbora, pepino, melão, melancia e moranga. O acompanhamento técnico é feito pelo técnico em agropecuária, Rodrigo Dutra, que é da Bionatur.

Além do trabalho realizado no município de Fraiburgo, a prática agroecológica também ganhou os municípios de Abelardo Luz e Passos Maia, no oeste catarinense e depois se estendeu para Matos Costa no Planalto Norte do estado. Seguindo os parâmetros de Fraiburgo, os jovens vêem na Bionatur uma ferramenta de discutir e por em prática a produção agroecológica.

Em Abelardo Luz, os jovens do assentamento Santa Rosa I começaram a se reunir ainda em 2003. No início, 20 pessoas participavam de oficinas de informática, capoeira e artesanato. Após uma conversa com o técnico da Bionatur, Rodrigo Dutra, em junho de 2006, eles decidem desenvolver experiências com produção de sementes agroecológicas. Assim, passaram a se reunir uma vez por mês, sempre nos sábados e numa área de mil metros quadrados, cedida pelo assentado Alcides Bortoli, iniciaram a produção de sementes de alface, almeirão e rabanete, que são culturas de inverno.

Junto com a produção de sementes são realizadas a adubação verde e a produção de bio fertilizantes e de compostos, que auxiliam na adubação e proteção do solo, garantindo a produção sem a utilização de agrotóxicos.

Além de Rodrigo, a equipe técnica da Cooperativa dos Trabalhadores da Reforma Agrária (Cooptrasc), também dá acompanhamento técnico ao trabalho dos jovens.
Em todos os seis grupos, as áreas cultivadas são cedidas pelos pais que são assentados, ou pelas comunidades.

Seu Alcides Bortoli, que cedeu a área para o primeiro plantio realizado em Abelardo Luz, afirma que acredita na agroecologia e que não utiliza mais veneno no seu lote. Segundo ele, no início os jovens foram criticados, mas agora a comunidade está percebendo a viabilidade e ele próprio, também irá produzir sementes agroecológicas para a Bionatur. “Eu estou aprendendo com o processo e o que nós temos não é só nosso, mas sim do conjunto que foi conquistado na luta”.

Na cultura de verão são produzidas as sementes de pepino, abóbora e moranga. Os jovens inseridos no processo de produção de sementes comemoram os resultados.

Elizandra Bortoli, filha de assentado e uma das coordenadoras do grupo de Jovens do Assentamento Santa Rosa I, relata com orgulho a principal conquista. “Nosso trabalho incentivou outros jovens que não acreditavam que agroecologia pudesse dar certo. O exemplo deu frutos e os filhos dos assentados vizinhos também querem produzir sementes agroecológicas”.

Rosângela de Fátima Rodrigues, também filha de assentado e uma das coordenadoras da juventude, fala da importância em resgatar a cultura dos antepassados e de preservar a natureza. “Pensamos que devemos organizar o lote para melhor produzir, planejar a propriedade e passar para frente o que aprendemos para construir um novo modelo de produção que garanta a preservação da natureza e a produção de alimentos saudáveis”.

Planejando o futuro

Com o trabalho de produção de sementes agroecológicas foram abertas várias portas para o futuro da juventude. Não é simplesmente o resultado econômico da produção, mas também a elevação do conhecimento e o resgate cultural da agricultura camponesa. Os jovens conseguiram se fortalecer enquanto grupo na comunidade e ganharam uma motivação para permanecerem no campo.

Juliana Nunes, Componente do grupo de Jovens Santa Rosa I colocou o seu lote à disposição do grupo. Lá eles pretendem organizar toda a propriedade de forma agroecológica. Segundo Juliana, a agroecologia é enxergar a propriedade em toda sua amplitude. “Estamos pensando a propriedade completa, desde as agroflorestas, o Pastoreio Racional Voisin – PRV (produção de leite e de carnes a base de pasto), proteção das fontes e nascentes, produção de biofertilizantes, compostagem e cobertura de solo”.

Os jovens de Abelardo Luz já acertaram um contrato com a Coopeal – Cooperativa do MST na região, para produzirem os biofertilizantes que serão disponibilizados, pela Coopeal, para todos os assentamentos da região.

O exemplo destes grupos está provando que é possível conviver em harmonia com a natureza e produzir alimentos saudáveis e diversificados, garantindo assim uma qualidade de vida digna aos que vivem no campo.