Participantes de Conferência assinam manifesto em repúdio a Syngenta

Reunidos na I Conferência Nacional Popular de Agroernergia, mais de 500 militantes de movimentos sociais assinaram uma carta de repúdio à ação da Syngenta Seedes no Paraná. Na carta os participantes do encontro reafirmam que vão seguir lutando com mais força e vigor pelas bandeiras que nortearam a vida de Keno, assassinado no dia 21 de outubro.

MANIFESTO DA I CONFERENCIA NACIONAL POPULAR SOBRE AGROENERGIA SOBRE A EXECUÇÃO DO COMPANHEIRO KENO PELAS MILÍCIAS ARMADAS DA SYNGENTA SEEDS

Nós, cerca de 500 militantes de todos os estados do país e de vários países da América Latina, reunidos na cidade de Curitiba na I Conferência Nacional Popular sobre Agroenergia, tomamos conhecimento do fato que os pistoleiros envolvidos no assassinato do nosso companheiro Valmir Mota de Oliveira, o Keno foram soltos. Os sete membros da milícia da Syngenta Seeds responderão o processo em liberdade.

Não podemos nos calar diante desse fato. Não podemos deixar de manifestar nossa indignação diante de mais um caso em que a Justiça favorece os poderosos. O Poder Judiciário de Casacavel, ao libertar os assassinos no mesmo dia em que trabalhadores rurais reconheceram o pistoleiro que atirou em Keno, mostra que a Justiça em Cascavel não é cega. Que está claramente ao lado da Sociedade Rural do Oeste do Paraná (SRO) e da Syngenta.

O assassinato de Keno ocorreu no dia 21 de outubro, após a reocupação do campo de experimentos transgênicos da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, quando mais de 40 pistoleiros a serviço da transnacional atacaram os trabalhadores e trabalhadoras rurais de maneira brutal e covarde. Entretanto, é importante assinalarmos que os pistoleiros que atiraram nos trabalhadores rurais não agiram por conta própria. Agiram sob as ordens da Syngenta Seeds, a quem serviam.

Este é mais um crime dessa transnacional que em 2006, estava cultivando experimentos de sementes transgênicas, dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, o que era proibido pela Lei de Biossegurança. A empresa agia ilegalmente,pois deveriam respeitar uma distância de 10 km de parques e unidades de conversação, e os cultivos transgênicos da empresa estavam a 4 km do Parque. A transnacional foi multada pelo IBAMA em R$ 1 milhão de reais, por desrespeitar a Lei de Biossegurança. Mas nunca pagou a dívida. A Syngenta Seeds utiliza a reserva da Mata Atlântica, contaminando a biodiversidade e produzindo poluentes que agridem o meio ambiente os seres humanos.

Keno, juntamente com outras centenas de militantes, havia ajudado a denunciar os crimes da Syngenta há mais de um ano. Por isso estava marcado para morrer, tendo recebido várias ameaças de pistoleiros contratados pela transnacional.

Keno foi assassinado porque lutava contra as injustiças sociais, contra o latifúndio e o capital. Temos certeza de que se não tivesse assassinado, ele estaria aqui conosco, ajudando a construir uma proposta dos movimentos sociais para a soberania energética e alimentar. Porque o que estamos debatendo nesta conferência é exatamente tudo aquilo pelo qual keno lutou: a reforma agrária, a defesa das sementes crioulas, o combate aos transgênicos, aos monocultivos, à sanha do agronegócio e das transnacionais como a Syngenta Seeds.

Vivemos tempos difíceis, em que cada vez mais se invertem os valores. Usineiros responsáveis pela mutilação e morte de cortadores de cana são transformados em heróis. Os grandes capitalistas da indústria e do sistema financeiro são tratados como empreendedores e fomentadores do progresso e do desenvolvimento. Venera-se o Mercado como se este tivesse a solução para os problemas do povo brasileiro.

Enquanto isso, quilombolas, indígenas e ambientalistas são vistos como entraves ao desenvolvimento. E movimentos sociais são cada vez mais criminalizados. Celebra-se a Morte ao invés de se celebrar a Vida.

A Syngenta, junto com outras empresas como a Monsanto, querem deter o controle de toda a cadeia alimentar, da semente ao prato. Afrontam a nossa soberania nacional, atacam a nossa soberania alimentar. E, em vez de serem punidas, essas empresas são agraciadas com financiamentos, benesses e favorecimentos.

Não aceitamos esta situação. Não podemos permitir que a morte de Keno se transforme em mais um caso na longa história de impunidades. Não podemos aceitar que os responsáveis por sua morte permaneçam livres. E, principalmente. Não podemos sequer admitir a hipótese de que a Syngenta Seeds, que contrata pistoleiros e forma milícias armadas para assassinar trabalhadores, permaneça impune.

Não podemos permitir que a Syngenta prossiga semeando as suas sementes da Morte, da anti-Vida, da destruição ambiental e da miséria social produzidas em seus laboratórios de transgenia. Por isso nós, cerca de 500 militantes participantes da I Conferencia Nacional popular sobre agroenergia, manifestamos nossa decisão irresoluta de seguir lutando com mais força e vigor pelas bandeiras que nortearam a vida de Keno e de outras centenas de mártires do povo brasileiro. Queremos reforma agrária e justiça social. Queremos um Brasil justo, soberano, solidário e igualitário para o povo brasileiro!

Punição aos assassinos de Keno!
Queremos a syngenta fora do Brasil!
Keno vive!
A luta continua!

I Conferência Nacional Popular sobre Agroenergia
Curitiba, 30 de outubro de 2007.