No RS, desemprego é tratado como caso de polícia

Todos os 800 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) do Rio Grande do Sul, que ocuparam a Cooperativa Riograndense de Laticínios e Correlatos Ltda (Coorlac) nesta manhã, dia 28, estão sendo levados para três delegacias para serem fichados. A Brigada Militar dividiu as famílias em grupos de mulheres e crianças, homens e lideranças.

A Brigada Militar também intermediou uma audiência dos trabalhadores com o chefe da Casa Civil, Luiz Fernando Záchia, na tarde de hoje. “Além de não investir no social, o governo de Yeda Crusius ainda nem recebe os trabalhadores. Chega ao ponto da Brigada Militar ter que intermediar os conflitos. É a defasagem do Estado”, diz Mauro, coordenador do MTD.

A ocupação teve como objetivo denunciar à sociedade gaúcha que imóveis do governo estadual não cumprem sua função social e reivindicar audiência imediata com a governadora Yeda Crusius (PSDB) para negociação de propostas de combate ao desemprego.

Os trabalhadores reivindicam que o Estado passe aos trabalhadores espaços públicos onde as famílias possam trabalhar e gerar renda. De acordo com a coordenação do MTD grande parte dos imóveis que pertencem ao governo estadual estão abandonados, ao invés de estarem sob controle e utilização dos trabalhadores gaúchos.

“Queremos que a governadora, que é mulher, venha falar de igual com as mulheres do MTD, que sustentam seus filhos na periferia. O MTD hoje é formado, em mais de 90%, por mulheres de periferia. Não estamos desempregadas porque queremos, precisamos e queremos que o Estado nos atenda da mesma forma que atende as grandes empresários”, diz Márcia, da coordenação do Movimento.

O movimento busca sensibilizar a governadora para que libere recursos para execução do Programa Frentes Emergenciais de Trabalho ainda em 2007, considerando que no Orçamento deste ano há R$ 2,5 milhões destinados às frentes. Porém, até o momento, nenhuma frente foi liberada.

As frentes de trabalho são uma conquista do MTD que vêm dando certo. Por meio das frentes os trabalhadores recebem qualificação técnica e uma ajuda de custo para se sustentar e comprar a matéria-prima para a confecção de produtos (pão, cucas, roupas e artesanato). No entanto, falta espaço físico para que os desempregados, organizados em grupo, possam trabalhar, e também equipamentos.

Existem vários exemplos que comprovam a eficácia dessa política pública. Em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, as frentes de trabalho já foram adotadas pela prefeitura municipal. “As frentes de trabalho que temos cumprem com o seu papel. No entanto, faltam espaço físico e equipamentos. Queremos trabalhar, mas precisamos de condições”, diz Márcia.

Segundo Márcia, o governo evita se reunir com os desempregados, “forçando-nos a fazer 16 ocupações e protestos por todo estado de abril a agosto apenas para conseguir uma única reunião com o Secretário do Desenvolvimento Social, Fernando Schuler. Ele prometeu um projeto para 2008 e 2009, mas nossa fome tem pressa. Ele diz que o estado não tem dinheiro. Mas a própria secretaria da Fazenda divulgou que o governo gastou R$173 milhões em 2007 criando mais vagas em prisões, valor que o MTD reivindica para se liberar Frentes de Trabalho em 2007 para 2 mil e 500 famílias já organizadas. Se investisse 2% dos gastos com mais vagas na cadeia em Frentes de Trabalho, muitos problemas seriam evitados. O governo e seus agentes, especialmente
o secretário Schuler, o diretor da Fundação Gaúcha do Trabalho, vereador Nedi Marques, e a governadora Yeda, têm que dizer abertamente se preferem pobre na cadeia ou trabalhando. E isso, se mostra com recursos. Exigimos 2% do recurso das prisões em 2007 para combater o desemprego”.

O MTD ainda reivindica que o governo garanta recursos para em 2008 investir nos projetos de combate ao desemprego apresentados pelos desempregados organizados.