Governo confirma apenas um assentamento na fazenda Dragão

Em 2007, uma das principais reivindicações do MST no RS ficou longe de ser alcançada. Apenas um assentamento foi confirmado pelo governo federal, com a desapropriação da fazenda Dragão, em Eldorado do Sul. No local, serão assentadas 72 famílias. Era esperada a colocação de 1,1 mil famílias durante 2007. Para 2008, o movimento reivindica a desapropriação das fazendas Coqueiros, em Coqueiros do Sul, e Southal, em São Gabriel, que, juntas, podem receber mil famílias.

Segundo o MST, as desapropriações foram prometidas pelo governo federal em acordo feito durante a marcha iniciada em setembro e que durou 62 dias.

O objetivo era rumar à Coqueiros, mas os sem-terra voltaram atrás na decisão. ‘Houve boicote da Farsul. Esperávamos a desapropriação da Southal e da Coqueiros, mas o governo não tomou essa decisão’, afirma Mauro Sibulski, da coordenação estadual do MST. ‘Esperamos assentar, até o final de 2008, 2 mil famílias’, ressalta. No RS, há 2,5 mil famílias sem-terra acampadas. Segundo o MST, caso o governo desapropriasse os latifúndios improdutivos acima de 2 mil hectares, seria possível contemplar todas.

O ano foi marcado por manifestações. Em abril, a Jornada de Luta pela Reforma Agrária incluiu fechamento de praças de pedágios e rodovias em 24 estados. No final do ano, houve invasões das sedes da empresa Syngenta Seeds, em vários estados, e da estrada de ferro Carajás, da Vale do Rio Doce, no Pará.

Tensão marca relações em 2007
O clima de tensão marcou a relação entre ruralistas e agricultores sem-terra em 2007. Na marcha do MST, que começou em setembro, rumo à Fazenda Coqueiros, em Coqueiros do Sul, os manifestantes foram monitorados por grupos liderados pela Farsul. A mobilização dos produtores rurais deu certo e evitou a invasão. A briga promete continuar em 2008.

‘Boicotamos a marcha do MST. Foi um impeditivo jurídico diante de um movimento ilegal’, afirma o presidente da Comissão de Assuntos Jurídicos da Farsul, Nestor Hein. A Fazenda Coqueiros, segundo o advogado, não poderá ser desapropriada, conforme reivindica o MST. ‘Ela não pode sequer ser vistoriada, muito menos desapropriada. A lei diz que um local que sofreu invasão não poderá ser vistoriado pelo Incra durante dois anos. Se não bastasse, a Coqueiros foi invadida duas vezes, o que amplia para quatro anos o impeditivo’, diz Hein. Informa que a fazenda Southal, em São Gabriel, até poderia ser vistoriada, se não tivesse sido considerada produtiva.

Segundo Hein, a Farsul é contrária à forma como o governo federal aplica os critérios de seleção dos beneficiários da reforma agrária. ‘Deveria haver mais seletividade. O governo não poderia contemplar quem não conhece e não vive do cultivo de terra’, enfatiza. A BM esteve atenta à iminência de confronto entre produtores rurais e sem-terra, com seu efetivo acompanhando de perto a movimentação. ‘O RS despendeu fortunas em policiamento nessas marchas. Foi gasto o dinheiro do contribuinte a troco de nada’, diz o advogado da Farsul.