Famílias do MTST fazem três ocupações em São Paulo

Na noite de sexta-feira (28/3), famílias do MTST (Movimento dosTrabalhadores Sem Teto) ocuparam simultaneamente três áreas no Estado de São Paulo, localizadas nos municípios de Mauá, Embu das Artes e Campinas. Os terrenos são latifúndios urbanos que estavam ociosos, sem cumprir sua
função social, enquanto milhares de famílias sem-teto não têm assegurado seu direito à moradia digna.

As ocupações fizeram parte da jornada de luta urbana protagonizada por movimentos populares de 9 estados brasileiros durante todo o dia 28 de março, com o objetivo de chamar a atenção do governo e da sociedade em geral para as condições miseráveis em que vivem milhões de famílias
brasileiras e reivindicar direitos fundamentais que não saem do papel para o povo pobre, como moradia digna, emprego, transporte público, educação pública de qualidade, creche e tarifa social de energia elétrica.

Diversos intelectuais, parlamentares, entidades e dirigentes populares declararam apoio à jornada nacional de luta urbana. Durante as ações, os movimentos lançaram o Manifesto Popular de 28 de março. O texto do manifesto, movimentos que o assinam e entidades que declararam apoio à
jornada seguem abaixo.

Manifesto popular de 28 de março

A Todos os Trabalhadores e Trabalhadoras que como nós estão cansados de esperar.

A Todos os Governantes deste país, que há muito tempo estão nos cansando.

Hoje, o povo pobre de vários cantos do Brasil se levanta num único gesto de resistência contra as condições de vida miseráveis que nos afetam. São ações desenvolvidas por movimentos populares em nove estados do país com o objetivo de fazer valer nossos direitos e fazer ouvir nossa voz. São milhares de favelas, de cortiços, de áreas de risco em que vivemos indignamente. São milhares de trabalhadores e trabalhadoras desempregados, informais ou trabalhando em situação de extrema
precariedade, submetidos à grande exploração que lhe arranca o sangue, o suor e, às vezes, a lágrima. São milhares, transportados no caos da cidade como gado, de crianças sem creche, de jovens e adultos sem educação pública com um mínimo de qualidade.

Na cidade do lucro não cabe o pobre, não cabe o negro, não cabe o nordestino, não cabe a mulher, não cabem os trabalhadores e trabalhadoras que deram sua força para construí-la. Somos milhões a quem tentam privar da esperança, mas que, resistindo, mantivemos nossa dignidade. É essa dignidade que transformamos hoje em ocupações de todos os tipos, exigindo e reivindicando todos os direitos que ficaram esquecidos, mortos nas leis e que faremos reviver nas lutas do povo pobre.

O modelo neoliberal nos sufoca. O dinheiro que vai para o bolso de banqueiros e especuladores como pagamento de uma dívida impagável seria mais que suficiente para resolver os problemas de habitação, infra-estrutura urbana e serviços no país. Ao povo sobram migalhas, apresentadas num jogo de ilusões como grandes políticas públicas. Os vultuosos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem alegrado muito mais os empresários da construção civil e do ramo
imobiliário do que o povo que necessita de moradia.

Uma Política de Reforma Urbana que tenha como prioridade os interesses populares nunca foi agenda de nenhum governo e Lula apenas aprofundou este caminho, que mata pela violência, pela fome, pelo cansaço, pela enchente, pela falta de habitação, etc. O Ministério das Cidades e seus “espaços de participação”, apresentados como avanços na efetivação de uma política urbana democrática, não representaram nenhum grande passo na solução de nossos problemas. Ao contrário, reproduzem uma forma burocrática e elitista de se tratar as questões urbanas.

Neste sentido, nossas ações de ocupação em todo o país são a única forma de sermos ouvidos e atendidos. Os movimentos que assinam este manifesto propõem:

– Uma política habitacional popular baseada em subsídios, com valor adequado à realidade das metrópoles, sem o entrave burocrático e elitista dos financiamentos bancários. Que o Governo Federal desenvolva uma política nacional de desapropriações de terrenos e edifícios urbanos que não cumprem função social, destinando-os às demandas populares organizadas.

– Uma política nacional integrada de transporte urbano público gratuito, de qualidade, priorizado em relação ao transporte individual, que tem levado as metrópoles ao caos.

– Uma política de educação que crie creches financiadas pelo Estado sob o controle dos trabalhadores, que valorize os professores e profissionais da educação, que qualifique o ensino não visando o mercado mas a consciência crítica e social dos alunos.

-Controle restritivo das taxas cobradas por serviços públicos básicos como água e energia elétrica, garantindo a aplicação de Tarifas Sociais previstas na lei.

-Políticas de geração de trabalho e renda que dêem alternativas sociais e não policiais aos trabalhadores informais.

Hoje, somos a voz de quem não tem voz. Hoje, não elegemos ninguém para falar, pois falamos nós mesmos por meio de nossas ações. Hoje, cada ocupação realizada neste país é a voz de milhares que foram calados e se cansaram. A cidade que queremos vamos por de pé, por ela vamos resistir
e combater e por ela vamos nos organizar e mobilizar nossa esperança. Porque aprendemos que a esperança de muitos hoje é a realidade de amanhã, a que queremos deixar para os que virão.

Assinam este manifesto:

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) / Movimento Urbano dos Sem Teto (MUST) / Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB) / Movimento dos Conselhos Populares – Ceará (MCP) / Movimento Sem Teto de Luta Amazonas / Movimento de Luta Popular Comunitária (MLPC) – Pernambuco / Movimento das Famílias Sem Teto (MFST)- Pernambuco / Movimento Quilombo Urbano Maranhão / Movimento das Mães Sem Creche / Fórum de Moradia – Minas Gerais / MTL Democrático Independente – Minas Gerais.