Sem Terra e comunidades locais lutam contra lixão em SP

Com o lema Lixão: mais um, não! cerca de mil pessoas participaram, no sábado (12/4), da caminhada contra a instalação de um aterro sanitário na região de Perus, município de São Paulo. Depois da concentração no Centro Pastoral Santa Fé, a marcha seguiu para a Comuna da Terra Irmã Alberta. Os manifestantes percorreram aproximadamente dois quilômetros da Rodovia Anhangüera, chegando a fechá-la nos dois sentidos por 30 minutos.

Há anos os moradores dos bairros Morro Doce, Anhangüera, Chácara Maria Trindade e Perus lutam contra a instalação de aterros sanitários na região, pois entendem que isso prejudicaria a qualidade de vida da população, além de contaminar o lençol freático. Dessa vez a luta é contra a implantação de um lixão na fazenda Itaye, localizada no bairro Maria Trindade. A área é propriedade do governo do estado, mas está sob posse da Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.

Não ao lixão: por terra, trabalho e pão

Além de ser contra o lixão, a população exige que a fazenda Itaye seja destinada à Reforma Agrária. Na área, há seis anos, estão acampadas as 40 famílias da Comuna da Terra Irmã Alberta.

Diante do impasse entre o governo estadual e o Incra sobre a destinação da área, as famílias decidiram desenvolver um assentamento autônomo: organizaram as áreas de moradia e plantio e estão produzindo milho, feijão e mandioca, além de experiências agroecológicas como horta mandala e reflorestamento da mata nativa em toda a área.

Se a reivindicação das famílias for atendida, este será o primeiro assentamento dentro do município de São Paulo.

Persistência

Em audiência com moradores no dia 25 de fevereiro, a presidência da Sabesp informou sobre a destinação da área para implantação de um aterro sanitário que receberia os resíduos provenientes das obras de limpeza do Rio Pinheiros (uma parceria do governo estadual com o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento). No entanto, durante a semana anterior à caminhada, a companhia divulgou uma carta entre a população da região desmentindo a informação, numa clara tentativa de colocar a opinião pública contra as organizações que denunciam os projetos de implantação de lixão no local.

Nem assim a população desanimou e manteve a mobilização que contou também com a participação dos grupos culturais Quimbalat, Banda Unidos da Lona Preta (formada por moradores de assentamentos e acampamentos da região) e Dolores Bocaberta, religiosas e religiosos, comunidades eclesiais de base e parlamentares – Eduardo Suplicy (senador/PT), Ivan Valente (deputado federal/PSOL), Simão Pedro (deputado estadual/PT) e Carlos Neder (vereador/PT).

Outras reivindicações

A mobilização, organizada pelo Movimento contra o lixão, Comissão Pastoral da Terra, Comunidades Eclesiais de Base e MST, apresentou também outros pontos de reivindicação, entre eles a construção de passarela sob a rodovia Anhangüera; abrigos nos pontos de parada de ônibus e retirada da praça de pedágio que separa o bairro Maria Trindade do restante do município de São Paulo.

Além do gasto de R$ 10,60 (valor da tarifa), a praça de pedágio ocasiona inúmeros transtornos à população. Um exemplo disso é a falta de transporte escolar. Para não ter que pagar pedágio, a prefeitura não disponibiliza transporte e, por isso, as crianças se submetem a riscos ao ter que atravessar a rodovia para esperar os ônibus.

A atividade político-cultural foi encerrada com um abraço coletivo na terra.