OGM destróem a biodiversidade

Do La Stampa “Dou-lhe um exemplo”. Vandana Schiva ajusta o longo xale de seda verde que lhe envolve o peito e lança a enésima profecia: “Acabo de consumir uma ótima refeição italiana com o melhor dentre os óleos de oliva, mas sei que no fluir de poucos anos poderia ser muito difícil fazer um óleo análogo”.

Do La Stampa

“Dou-lhe um exemplo”. Vandana Schiva ajusta o longo xale de seda verde que lhe envolve o peito e lança a enésima profecia: “Acabo de consumir uma ótima refeição italiana com o melhor dentre os óleos de oliva, mas sei que no fluir de poucos anos poderia ser muito difícil fazer um óleo análogo”.

A culpa, explica a cientista indiana, é da agricultura industrial extensiva, dos OGM (organismos geneticamente modificados) que invadiram as colheitas, das estratégias das multinacionais que favoreceram a alteração climática e a escassez de alimentos, ao invés do contrário. “Prometeram-nos um mundo de sementes com bom mercado e com comida para todos – e não mantiveram o empenho. Agora as mentiras estão se revelando. Os transgênicos são um problema, não uma solução’.

Com cinqüenta e seis anos, tem um olhar luminoso e muita gentileza, também nos momentos dos anátemas. A senhora Shiva, fundadora, com odor de Nobel, da Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource Policy, em Bruxelas, a convite da Região Toscana, combate com o sorriso nos lábios os gigantes dos geneticamente modificados.

Quer convencer o muno a mudar de rota, para sobreviver ao desenvolvimento. E a Europa, a deixar de lado os OGM, coisa que parece tentar a própria Comissão da União européia. “É óbvio – explica – que se procura usar o problema da mudança climática e a crise alimentar para relançar uma tecnologia que faliu, que afasta do problema e nasce de uma escolha oportunista”.

A senhora, o que propõe?

As soluções para permitir às colheitas de reagir aos eventos climáticos extremos, como estiagem e inundações, estão contidas nas variedades que os agricultores cultivaram por séculos e a agricultura industrial em boa parte anulou.

Por exemplo?

Se não há chuva, as plantas devem resistir à estiagem. Na minha região, onde as precipitações têm sido escassas nos últimos quatro anos, as velhas sementes agüentaram, as de nova geração não. Se, ao invés, o aquecimento do mar aumenta a freqüência dos ciclones, é necessário ter plantas que sobrevivam ao sal.

Os OGM não?

Há vinte anos as multinacionais anunciam soluções sem êxito. Não é possível, porque a tecnologia trabalha com genes singulares, enquanto as plantas que superam os estresses ambientais são poligenéticas. Um dano grave. E é somente o primeiro.

E o segundo?

OGM equivale a patente. Quer dizer que uma determinada sociedade pode se tornar monopolista de certo tratamento. Resulta que, quando se verifica um desastre natural, as multinacionais faturam bilhões. Não se modifica a agricultura, não se reduz o seu impacto sobre o clima, não se produz mais alimento.

O slogan é que os OGM dão mais possibilidades de matar a fome.

Falso. A engenharia genética trouxe consigo a prevalência das monoculturas. Na Índia se trabalhava outrora com oito tipos diversos de sementes de soja. O dumping EUA sobre as sementes modificadas destruiu uma parte das biodiversidades e as prerrogativas da nossa cultura alimentar.

O que seria preciso fazer?

Se quisermos produzir mais alimento protegendo o planeta e o clima, é preciso visar a biodiversidade dos ecossistemas. Cada área será destinada a sementes diversas, com a rotação das colheitas e a garantia de qualidade e sustentabilidade. Sem os fertilizantes químicos que estimulam o efeito serra. Sem os Ogm, mas, com soluções orgânicas.

Elas não são mais caras?

Os fertilizantes químicos custam mais e com a subida do preço do petróleo serão sempre mais onerosas. Só poderão ser adquiridas graças a subsídios públicos. E depois, são a única razão que torna a atividade agrícola industrial mais competitiva. Não se devem esquecer os suicídios provocados pelos Ogm Monsanto.

Que tem a ver a Monsanto com os suicídios?

Fizeram acreditar que se pudesse ficar milionário somente comprando estas novas sementes miraculosas. Quem o fez descobriu que precisava comprar todos os anos a um preço triplo daquelas mais comuns. A certo ponto se deram conta que os novos cultivos são mais vulneráveis. Precisaram de mais pesticidas e mais água. E se endividaram pesadamente. Resultado: na Índia duzentos mil mortos em dez anos.

A Europa quer uma política agrícola diversa. Menos subsídios e elos mais diretos com a produção. Funciona?

Somente se não for em direção a um sistema de mercado global. Seria apenas uma outra Pac (Política agrícola comum) globalizada, enquanto necessita conter os subsídios em nível mundial. Não é possível que as maçãs de Washington cheguem a uma aldeia indiana a preços inferiores àqueles da Kashemira.

O Ocidente diz que deve produzir para dar de comer ao Oriente que se torna mais rico.

Não é verdade. As estatísticas demonstram que na Índia se come cada vez menos, e o consumo per capita na Índia decresceu em poucos anos em 20%. Portanto digo: ora, se alguém se torna rico, compra um segundo automóvel. Não encomenda uma dupla refeição.

Quadro difícil. Otimista ou pessimista?

Ano após ano sinto-me mais confiante. Os diversos fatores de crise provocados pela agricultura dominada pelas multinacionais – que trouxeram os Ogm, o alimento caro e as distorções climáticas – estão se manifestando. É verdade que somos pequenos e eles têm grandes meios. É verdade que podem fazer aquilo que lhes parece, desafiar a Câmera de Comércio de Chicago ou embolsar os fundos públicos. Mas, as pessoas que não têm pão, no final conseguirão obter justiça. Sempre foi assim.