Do assentamento para a fábrica

Da Carta Capital

A Cooperoeste (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste), criada há dez anos a partir da iniciativa de famílias assentadas naquela região de Santa Catarina, prepara-se para dobrar a produção de leite e derivados, carro-chefe do empreendimento. Com investimentos de 20 milhões de reais, a empresa fundada e administrada por membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) adquiriu máquinas de embalagens da Tetra Pak para aumentar a capacidade de envase dos atuais 330 mil para 700 mil litros de leite por dia.

O crescimento deverá beneficiar diretamente os 665 cooperados e as 2,7 mil famílias que fornecem matéria-prima para a organização. Os produtos da Cooperoeste são vendidos em toda a Região Sul e em São Paulo sob a marca Terra Viva. Além do leite longa-vida, a cooperativa comercializa derivados laticínios, como queijo prato e muçarela, para mais de 400 clientes no oeste de Santa Catarina, e também industrializa creme de leite e bebida láctea. Em 2007, o grupo diversificou as atividades ao fundar a Indústria de Conservas Persch, que fechou o ano com uma produção de 100 mil vidros de pepino e cebola em conserva.

“As decisões são tomadas pelos dirigentes da cooperativa e aceitas pela maioria. Nunca divergimos”, afirma o presidente da entidade, Sebastião Vilanova. O êxito da iniciativa também é explicado pelo apoio inicial do MST e do MPA, que hoje citam a Cooperoeste como uma referência nacional. Atualmente, os principais cargos estão em mãos dos agricultores assentados. A ocupação original naquela área, nas proximidades do município de São Miguel do Oeste, foi iniciada em 1985. Um grupo de 550 famílias deu origem a 14 assentamentos, ao longo de três anos de acampamentos.

A decisão de comercializar leite foi tomada a partir de uma análise das cadeias produtivas da região. Com o passar dos anos, as famílias, organizadas, perceberam que a venda exclusiva a uma grande empresa local as deixava expostas a oscilações de preços e remuneração mais baixa. Em 1996 criaram a marca Terra Viva e inauguraram a primeira fábrica, com uma produção diária de 300 litros de leite.

Em 1998, a maior fábrica do grupo foi erguida às margens da rodovia BR-163, então sob o controle da recém-criada Cooperoeste. A produção, à época, era de 30 mil litros por dia, e o uso de embalagens importadas encarecia o custo final, além de limitar a capacidade de envase. Uma parceria com a Tetra Pak permitiu aumentar em mais de dez vezes a produção, até o ano passado. Com o início das operações e novo maquinário, previsto para outubro, a cooperativa pretende aumentar as vendas em São Paulo e Rio Grande do Sul, que respondem por apenas 10% da comercialização de produtos terra Viva, além de buscar compradores em outros estados.