Exigimos mudanças!

A fatura da crise mundial que revelou o fracasso do modelo capitalista neo-liberal está posta na mesa. Ao redor dela, banqueiros, donos de indústrias, latifundiários… e na ponta, os trabalhadores. O velho ditado tão desgastado nunca foi tão oportuno: quem senta na ponta paga a conta.

Atentos a essa situação, no dia 26/11, mais de 50 movimentos sociais, centrais sindicais, organizações de estudantes e entidades da sociedade civil estiveram reunidos com ministros do Estado, no Palácio do Planalto, para problematizar o atual modelo de desenvolvimento brasileiro, basedo nas falidas políticas neo-liberais. Lá apresentaram um documento com propostas para enfrentar crise.

Marina dos Santos, da coordenação nacional do MST, coloca qual foi a intenção de reunião que aconteceu há poucos dias. O Movimento também esteve presente na entrega do documento, cobrando políticas de distribuição de renda, educação, saúde e reforma agrária.

A seguir, confira a entrevista publicada nesta quarta-feira (3/12).

Qual era o objetivo dessa reunião com o governo Lula?

Participamos da reunião para mostrar ao governo que o atual modelo econômico não tem condições de proteger o povo dos efeitos da crise financeira mundial. A crise econômica demonstrou que a política econômica neoliberal que adotamos desde o governo FHC está errada. O povo elegeu o presidente Lula para mudar esse modelo, mas até agora seguimos com as mesmas linhas econômicas. Por isso, apresentamos propostas para superar a instabilidade financeira do neoliberalismo, que impede o desenvolvimento nacional e políticas de distribuição de renda, educação, saúde e reforma agrária.

Como o MST avalia o resultado da reunião? Lula frustou os movimentos ao não comparecer?

A ausência do presidente Lula prejudicou a reunião, porque queríamos discutir com o responsável pelas políticas do governo as mudanças necessárias e o destino do nosso país. Queremos fazer um debate sério e profundo sobre o Brasil com o presidente Lula. Compreendemos a situação de catástrofe em Santa Catarina, e nos solidarizamos com a população, mas queremos ser chamados para debater o projeto de nação com o presidente, e não somente nos momentos de crise – como foi feito até agora.

Alguns movimentos, dentre eles o MST, apresentou um documento com propostas para o Brasil nesse período de crise. Como foi construído/debatido esse documento?

A construção do documento foi importante para a unidade de um conjunto de forças políticas, em torno de propostas concretas para o nosso país superar o neoliberalismo, que nos deixa refém do capital financeiro e das empresas transnacionais. Estamos participando de discussões com
centrais sindicais, movimentos populares, estudantes e entidades da sociedade civil para elaborar um programa com propostas de mudanças que criem condições para um projeto de desenvolvimento nacional e o resgate do papel do Estado como ator na economia. E esse processo não vai parar aí, estamos construindo uma agenda de mobilizações em conjunto para 2009. Nossa preocupação é o tamanho da conta que vai sobrar para a classe trabalhadora com essa crise. O governo brasileiro tem que se preocupar com o trabalho e as questões sociais do povo.

Alguns dos representantes presentes na reunião declararam abertamente apoio à candidatura de Dilma. O MST apóia? Como vê esse apoio de outros movimentos durante a reunião?

Estamos preocupados com o futuro do nosso país, que não será resolvido de eleição em eleição, mas com um novo ascenso do movimento de massas em defesa das mudanças estruturais e de um projeto nacional. As eleições estão cada vez mais despolitizadas e têm pouca capacidade de
viabilizar transformações que garantam educação, saúde, reforma agrária, moradia e igualdade racial. É o povo organizado e consciente que faz as mudanças.

Em relação à crise, quais são, em linhas gerais, as propostas dos 57 movimentos?

O eixo principal das nossas propostas é a mudança da política econômica, com a diminuição da taxa de juros, controle do capital financeiro e eliminação do superávit primário. O modelo econômico
neoliberal demonstrou com a crise que não é sustentável e precisamos deixá-lo para trás na nossa história, adotando medidas que possam atender as reais necessidades do povo. Depois da reunião, vários outros movimentos e entidades pediram para assinar a carta.

Como o MST avalia a forma como o governo federal tem lidado com os impactos da crise no Brasil?

As medidas do governo, até agora, se limitam ao apoio aos bancos, às grandes empresas e ao setor exportador, que lucraram com o neoliberalismo. Agora, em momento de crise, recorrem ao Estado que tanto discriminavam.