Usina é o foco dos protestos das mulheres de Pernambuco

Cerca de 200 camponesas realizam nesta segunda-feira (9/3) uma manifestação na Usina Cruangi, em Aliança, Zona da Mata Norte de Pernambuco. Elas protestam contra o monocultivo da cana e o trabalho escravo no estado. Em fevereiro deste ano, uma operação do Grupo Móvel de Fiscalização resgatou 252 trabalhadores rurais em terras da Usina. As mulheres ligadas a Via Campesina também reivindicam a garantia da soberania alimentar, a partir da agroecologia, e energética.

Em Petrolina, as camponesas da Via Campesina farão um ato contra o avanço do agronegocio na região, promovido pelos grandes projetos de irrigação do Rio São Francisco.

Mulheres da Via Campesina se mobilizam pelo Dia Internacional das Mulheres. Como acontece todos os anos, as mulheres da Via Campesina se mobilizam em todo o Brasil durante essa semana, na Jornada Nacional de Mulheres da Via Campesina contra o agronegócio e em defesa da Reforma Agrária e da Soberania Alimentar, em comemoração ao 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras.

Durante toda a semana serão realizadas manifestações pelos direitos das mulheres trabalhadoras rurais em vários municípios do Estado. O setor sucroalcooleiro foi o ramo da economia que mais se utilizou da mão-de-obra escrava no ano de 2008. De acordo com dados da CPT, 2.553 trabalhadores, o que representa 49% dos resgatados da escravidão, estavam no setor sucroalcooleiro. As mulheres da Via Campesina lutam pela aprovação da PEC 438, que prevê a desapropriação de terras onde sejam encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo. Apesar de todos no Congresso se dizerem contra o trabalho escravo, a PEC tem encontrado forte resistência na Câmara dos Deputados e por isso está parada desde 2004.

Por outro lado, o Governo Federal continua priorizando o agronegócio. A oferta de crédito rural do governo federal para a agricultura empresarial nesta safra (2008/09) é de R$ 65 bilhões e de apenas R$ 13 bilhões para a agricultura familiar. Mas apesar de todo esse investimento o agronegócio foi o setor que mais demitiu desde o começo da crise, já são 184,9 mil trabalhadores agrícolas demitidos. A fruticultura irrigada do Vale do São Francisco, com quase a totalidade de sua produção voltada para o mercado externo e com a desvalorização do preço das frutas no mercado internacional, está gerando demissões e falência de pequenos e médios produtores. Somente em dezembro o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho oficializou mais de 2.000 desligamentos na agropecuária em Pernambuco. As mulheres da Via Campesina lutam por soberania alimentar, por um projeto que priorize a produção de alimentos para o mercado interno e que não destrua o meio ambiente.

Para isso, reivindicam a viabilização de políticas públicas que garantam a soberania alimentar e energética do povo brasileiro em vez do financiamento dos grandes projetos do capital internacional, a agroecologia como projeto político para alcançar a soberania alimentar, o direito à terra através da Reforma Agrária (onde esteja garantido o direito da mulher à terra), os direitos territoriais de povos indígenas e populações quilombolas, o direito ao trabalho em condições dignas e bem remunerado, o direito à previdência social, à diminuição da jornada de trabalho e à socialização do trabalho reprodutivo.