MST da Bahia encerra Jornada com Sessão na Assembléia Legislativa

Uma sessão especial no plenário Assembléia Legislativa marcou o fim da Jornada de Lutas do MST-BA, no dia 17 de Abril. Mais de dois mil trabalhadores Sem Terra marcharam da Seagri (Secretaria de Agricultura), onde estavam acampados em protesto desde o dia 13/4, até o local da homenagem.

“Essa sessão é um contraponto ás tentativas de criminalização do MST. Nós sabemos que as armas dos Sem Terra sempre foram o diálogo e a manifestação pacífica. Eles têm medo da foice e do martelo, da enxada e do facão, que são as ferramentas de trabalho do nosso povo”, afirmou o deputado estadual Yulo Oiticica (PT), articulador da homenagem aos 25 anos do movimento.

Na mesa, estavam presentes representantes do MST, Seagri, Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Consea (Conselho Nacional Segurança Alimentar e Nutricional), CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário), Fundac (Fundação da Criança e do Adolescente) e do Partido dos Trabalhadores. “Nós sempre enfrentamos muitas dificuldades por causa da natureza da nossa luta, que é de enfrentamento contra o Capital, a propriedade privada, o latifúndio. Acusam o movimento de desrespeitar a ordem estabelecida, mas que ordem é essa? A ordem de passar fome, da miséria? Essa nós não aceitaremos!” protestou o militante do MST e Secretário de Desenvolvimento Social e de Combate a Pobreza, Valmir Assunção. E complementou: “Se hoje eu sou secretário e deputado estadual licenciado, o mais votado do PT, não é porque tenho olhos bonitos, é porque o MST me colocou aonde estou. Se tem uma coisa que eu me orgulho muito, é de fazer parte desse grande Movimento”.

Místicas marcaram a Sessão, que homenageou os 19 trabalhadores rurais assassinados no Massacre de Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996. Assim como em diversos outros crimes ligados à luta do provo brasileiro por terra e trabalho, os assassinos ainda permanecem impunes.

Estado avança em ocupações

Na segunda-feira passada (13/4), cerca de dois mil integrantes do movimento acamparam no terreno da Seagri, no CAB (Centro Administrativo da Bahia). Os Sem Terra promoveram esta ocupação a fim de pressionar o Governo do Estado para o cumprimento do acordo realizado em abril de 2007, quando o MST realizou uma marcha com cinco mil pessoas de Feira de Santana a Salvador e foi recebido publicamente pelo Governador Jaques Wagner. Dentre os itens ainda não cumpridos, estão a construção de três mil casas em nove regiões do estado e a recuperação de estradas para facilitar o escoamento da produção. O acampamento só foi desmontado na manhã de sábado, 18, depois de reuniões com o governador Jaques Wagner e diversas secretarias do governo.

O MST-BA promoveu mais de 50 ocupações em 2009, por todo o estado. No mês de abril, foram cerca de dez, das quais se destacam duas. Uma, com cerca de 1.500 famílias, no dia 08, foi a da fazenda Putumuju, distrito de Mundo Novo, a 25 km de Eunápolis, no extremo sul da Bahia. A fazenda é controlada pela transnacional Veracel Celulose, que possui cerca de 205 mil hectares de terras no Extremo Sul da Bahia, sendo cerca de 96 mil hectares de monocultura de eucalipto. Mais de 20 hectares de eucalipto foram derrubados em protesto. “A Veracel tem mais de 20 mil hectares de área devoluta em Eunápolis, e esta terra deve ser destinada para a Reforma Agrária”, declarou Márcio Matos, membro da Direção Nacional do MST. A outra ocupação emblemática foi no dia 14/4, com 300 famílias, na Fazenda Culturosa, em Camamu (Baixo Sul da Bahia). Com cerca de 2.500 hectares, a fazenda é uma das maiores produtoras de seringa da Bahia, com cerca de 100 toneladas de borracha por mês. “Queremos mostrar que a maior parte das terras agricultáveis do estado está nas mãos das grandes empresas do agronegócio, que praticam monocultura para exportação. A agricultura familiar gera dez vezes mais empregos e é quem tem condição de produzir alimentos para o nosso povo”, explica Lúcia Barbosa, da Direção Nacional do movimento.

De acordo com Lúcia (popularmente conhecida como Lucinha), a jornada de lutas “teve um saldo extremamente positivo. Conseguimos avançar nas negociações com o governo para viabilizar a construção das casas e agilizar os pareceres ambientais necessários para a desapropriação das terras. Todo o estado vem se mobilizando em torno do abril vermelho, o mês da reforma agrária. Estamos sinalizando para a sociedade que precisamos construir um outro modelo de desenvolvimento, e que o caminho é pela esquerda”.