A produção de um “novo” massacre?

É clara a campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais no Brasil e, também, é nítida a participação nesse processo de setores de nossa sociedade comprometidos com a defesa da propriedade privada em detrimento de sua função social. Englobando essa campanha ainda temos nossas mídias impressas e televisivas veiculando matérias e reportagens que criam fatos e divulgam versões de acontecimentos desmoralizando movimentos e suas bandeiras de luta.

É clara a campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais no Brasil e, também, é nítida a participação nesse processo de setores de nossa sociedade comprometidos com a defesa da propriedade privada em detrimento de sua função social. Englobando essa campanha ainda temos nossas mídias impressas e televisivas veiculando matérias e reportagens que criam fatos e divulgam versões de acontecimentos desmoralizando movimentos e suas bandeiras de luta.

Nesse cenário, a desmoralização do MST parece ser a primeira tarefa desta campanha nacional de criminalização dos movimentos sociais e o sentido que ganha essa desmoralização é claro: é preciso criar fatos e notícias que construam uma imagem negativa do movimento para que qualquer ação contra o mesmo tenha uma legitimidade social, coloniza-se o imaginário para legitimar ações brutais. Mas precisamos analisar os fios que tecem essas estratégias e as conseqüências drásticas que as mesmas estão trazendo e podem ainda trazer.

No caso do MST uma rede muito bem estruturada e articulada vem produzindo, quase que diariamente, um conjunto de fatos que viram notícias de ampla circulação e divulgação nacional, sendo que estas notícias ganham autonomia de construir realidades e, assim, difundir uma verdade sobre o movimento que ganha aceitação e, muitas vezes, aclamação popular.

A estratégia de produção do estereótipo começa com a construção de um fato que ganha tons de negatividade e desorganização da pretensa “ordem” social. Os fatos são literalmente criados obscuramente e nos momentos de mobilização e agendas do movimento, algo deve acontecer…

Após o fato efetivado é preciso criar notícias e fazer circular uma imagem de destruição. Nestes termos, fatos isolados ganham uma visibilidade estrondosa, no sentido de ações obscuras forjadas para se criar fatos jornalísticos se transformam na prática usual de todo o movimento.

Diante das notícias uma necessidade se edifica: construir os mocinhos e os bandidos da situação. Logicamente que esta é hora de se vestir o discurso jornalístico com os tons do discurso legalista e automaticamente condenar o movimento criminalizando-o.

Até aí a mídia assume as rédeas da desmoralização, após isso outros sujeitos políticos entram no processo. A justiça, nesse sentido, após o fato se consolidar como algo que deve ser resolvido de forma urgente, precisa encontrar os culpados e, assim, personifica-se o movimento e se indicia suas lideranças, no sentido de desmobilizá-lo.

Diante de todas estas estratégias, que são engolidas dia-a-dia pela população através das notícias, cria-se uma legitimidade social para as prisões.

Será que um novo massacre está se construindo?

Estamos vendo e vivenciando no sudeste do Pará mais uma tentativa desmedida de criminalização do MST que articula múltiplas esferas de poder com a condescendência passiva de nossa mídia vendida e vendível.O MST iniciou dia 03 de novembro a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária exigindo a desapropriação imediata de todas as fazendas ocupadas por eles para atender 2000 famílias acampadas no Estado do Pará.É durante as atividades desta jornada de lutas que mais um fato se cria e mais uma vez o MST é criminalizado, como que se lutar pela função social da propriedade fosse crime no Brasil.

Na última sexta-feira não tivemos um novo massacre novamente na curva do “S” em Eldorado dos Carajás, pois lá estavam pessoas que impediram a ação violenta da polícia. O pior de tudo isso é que a sociedade, pela campanha da mídia de demonização do movimento, não compreende o valor de sua luta e acaba legitimando as ações violentas contra o mesmo. Temos de ter o cuidado de não sermos cúmplices de um novo massacre que se anuncia.

O Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará – Campus de Marabá tem desenvolvido parcerias estratégicas de formação com o MST, a FETAGRI, a Via Campesina e outros movimentos, no sentido de construir a autonomia dos sujeitos participantes através da formação de um senso crítico acerca das contradições envolvidas no processo de desenvolvimento pensado para a Amazônia.

Por isso, o Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal do Pará – Campus de Marabá apóia o MST e reforça a necessidade de a abertura de negociação com o INCRA, o MDA e o ITERPA e se coloca completamente contra as prisões recentemente decretadas, pois acredita que a defesa da FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE é algo que a Constituição prevê e deve garantir.

Justiça social no campo só com REFORMA AGRÁRIA.

Marabá, 11 de novembro de 2009.

Bruno Cezar Maleiro – professor UFPa
Alexandre – professor UFPa
Haroldo Souza – professor UFPa
Francinei Bentes Tavares – professor UFPa
Eliana Pereira M. Soares – professora UFPa
Ronaldo da Silva Souza – professor UFPa
Edma Moreira – professora Ufpa
Cloves Barbosa – professor UFPa
Hildete dos Anjos – professora Ufpa
Joseline Simone Trindade – professora UFPa
José Pedro Martins – professor UFPa
Evandro Medeiros – professor UFPa
William Assis Santos – professor UFPa
Fernando Michellotti – professor UFPa
Idelma Santiago – professora IFPa
Airton Pereira – professor UEPa
Maria Carolina de Souza santos – estudante UFPa
Suzane Chagas Rodrigues – estudante UFPa
Roman de Souza Cabral – estudante UFPa
Simone Brandão Miranda – estudante UFPa
Maria Lúcia da Silva Coelho – estudante UFPa
Leandro de Souza e Silva – estudante UFPa
Cristiano Brito da Silva – estudante UFPa
Adriany Costa Ferreira – estudante UFPa
Aline Carla A. Carvalho – estudante UFPa
Carla Betânia Reiher – estudante UFPa
Iramita Alves Pimentel – estudante UFPa
Sidineia dos Santos Reis – estudante UFPa
Iara Fernandes Reis – estudante UFPa
Ynoã Soares de Camargo – estudante UFPa
Junior Gleyssom da Cruz – estudante UFPa
Elias F. de Souza – estudante UFPa
Zildeane Rodrigues de Medeiros – estudante UFPa
Thiago Martins da Cruz – estudante UFPa
Agelson Vaz Nascimento – estudante UFPa
Genivaldo Sousa Rocha – estudante UFPa
Adriano Vieira – estudante UFPa
Jane Martins dos Santos – estudante UFPa
Ângela Maria Gregório – estudante UFPa
Risone B. Costa – estudante UFPa
Osmarina Oliveira – estudante UFPa
Suzy Gomes dos Santos – estudante UFPa
Antonielda da Silva assunção – estudante UFPa
Rafael Rodrigues Lopes – estudante UFPa
Marcelo Melo dos Santos – estudante UFPa
Etiane Patrícia dos Reis – estudante UFPa
Raimundo Gomes da Cruz Neto – Sociólogo
Eric de Beleém – Antropólogo
Rosemayre Bezerra – Socióloga