Agrotóxicos são incompatíveis com biomas brasileiros

Pedro Carrano, da página do MST O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), integrante da Via Campesina, em seu mais recente encontro nacional ergueu a bandeira contra o uso dos agrotóxicos. Recentemente, o Brasil conquistou o triste índice de maior consumidor mundial de venenos. Em 2009, a média foi de três quilos ingeridos por habitante.

Pedro Carrano,
da página do MST

O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), integrante da Via Campesina, em seu mais recente encontro nacional ergueu a bandeira contra o uso dos agrotóxicos. Recentemente, o Brasil conquistou o triste índice de maior consumidor mundial de venenos. Em 2009, a média foi de três quilos ingeridos por habitante.

Frei Sérgio Görgen, dirigente do MPA, defende que a sociedade civil e os movimentos sociais devem se mobilizar a partir deste tema, por meio de estudos de caso, denúncias, encontros para trocas de informações “Tanto científicas como práticas para atingir linhas de ação”, convoca.

Em entrevista, o dirigente coloca que o uso indiscriminado de agrotóxicos tem como base o atual modelo de agricultura. E o pequeno agricultor é o mais prejudicado por esta situação.

Página do MST. Como o MPA analisa os atuais índices de aumento do uso de agrotóxicos na agricultura?

Frei Sérgio Görgen. É um sinal de descompasso entre o biomas brasileiros e o modelo de agricultura. Somos um país tropical e subtropical utilizando uma agricultura com modelo de clima frio, modelo dos EUA, que hoje nem serve para eles. O Brasil é megabiodiverso, mas apresenta grandes extensões de monocultivo, e está provado que isso, em um ambiente úmido e quente, provoca descontrole ambiental. Em um cenário de muita diversidade biológica, impõe-se de maneira forçada a homogeneização, que causa descontrole, insetos, etc. A saída acaba sendo o uso e a multiplicação absurda do volume de venenos – resultado do modelo de agricultura. Temos que adotar uma agricultura de tipo tropical que conviva com os biomas multidiversificados. Pois o veneno é uma conseqüência de uma situação. Temos hoje uma situação insustentável do ponto de vista da saúde, dos custos dos agricultores, do ponto de vista da contaminação ambiental.

Página do MST. De que forma o pequeno produtor e o produtor familiar enfrentam esta situação?

FSG. O agricultor está prensado. Não tem onde escapar. Se não usar, não colhe nada. Se usa, não sobra nada, o lucro vai todo para o veneno fertilizante. Se não houver um movimento forte de mudança de modelo para o agricultor, a tendência é que ele seja cada vez mais inviabilizado economicamente, depois os médios agricultores tornam-se escravos das multinacionais. Os grandes fazendeiros também estão nas mãos das corporações. Está na hora da rebelião dos médicos, apontando que as doenças de massa têm como causa os venenos agrícolas – o que implica uma mudança do modelo como um todo.

Página do MST. Como o senhor tem visto as recentes ações de fiscalização da Anvisa em relação a transnacionais do ramo de agroquímicos e os recentes dados sobre o aumento dos agrotóxicos em cada cultivo?

FSG. É impressionante. Viu-se de tudo nas empresas, que mudam fórmulas e usam venenos modificados. As leis são permissivas, mas nem isso eles respeitam. O material está vencido. É mais uma frente de batalha para a mudança. Acho a ofensiva da ANVISA sobre as transnacionais têm que ir para dentro das grandes indústrias. A informação sobre alfaces, tomates, são graves, mas não podemos ir para cima do agricultor, que não tem alternativa, muitas vezes por não ter informação. No Brasil há um monopólio que envolve terra, insumos agrícolas, venenos, sementes e mercado industrial. É uma cadeia fechada, e o povo brasileiro está nas mãos de bandidos no mercado agroalimentar.