CEBs: construindo uma Igreja solidária

Lívia Bacelete, Comunicadora da Cáritas Regional Minas Gerais

Lívia Bacelete, Comunicadora da Cáritas Regional Minas Gerais

Montes Claros foi exemplo vivo da força e organização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Dos dias 22 a 25 de julho, a cidade recebeu cerca de mil e duzentas pessoas de todo estado para participar do 6º Encontro Mineiro das CEBs. Com o tema “Economia e Missão” e o lema “Construindo Uma Igreja Solidária”, o encontro recebeu delegados de 29 (arqui)dioceses, urbanos e rurais, integrantes de organizações sociais, indígenas, afrodescendentes, cantores populares, agricultores familiares, representantes de igrejas cristãs e demais religiões, movimentos sociais e outros convidados.

Para Carlos Henrique, de Governador Valadares, o encontro anima as comunidades para a caminhada e conjuga o povo a partilhar vida. “A discussão do tema é importante para que a comunidade amplie seu olhar sobre o que é economia, o que é solidariedade, quais as novas formas de partilha”, acredita.

No 6º Encontro Mineiro das CEBs, as comunidades refletiram sobre cinco eixos temáticos: social, ecológico, econômico, eclesial e político. As reflexões foram feitas a partir da metodologia do ver-julgar-agir-rever e celebrar, que consiste em olhar a realidade em que se vive (ver); julgá-la com os olhos da fé (julgar) e encontrar caminhos de ação à luz da fé (agir). Após a ação, é preciso avaliar, rever o caminho, reconhecer os erros e os acertos. A celebração é o momento de dar graças, celebrar a fé e a vida.

Magda Gonçalves de Melo, de Porto Velho, Rondônia, participou do encontro em Minas Gerais. Ela acredita que este momento foi de fundamental importância para que as comunidades continuem fortalecidas e motivadas. “Nesse encontro, com mais de 1.200 pessoas, deu para sentir a presença viva de Deus. Foi muito forte perceber que as pessoas estão cada vez mais conscientes, se organizando e se preparando”, afirmou.

O trem da CEBs vai passar

O encontro teve início no dia 22 de julho, com uma celebração ecumênica, que seguiu as orientações do Ofício Divino das Comunidades. A celebração contou com a participação do Arcebispo Metropolitano de Montes Claros, Dom José Alberto Moura, do Bispo da Diocese de Januária, Dom José Moreira e do responsável pelas CEBs no regional Leste II, o Bispo Diocesano de Araçuaí, Dom Frei Severino Clasen.
No segundo e terceiro dias de encontro, foram realizadas plenárias e oficinas a partir dos eixos temáticos. Os eixos foram assessorados pelos padres Antônio Alvimar Sousa, Frei Gilvander Moreira, Nelito Dornelas e Cleto Caliman. Além do leigo, Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo e responsável pelas análises de conjuntura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

No dia 23 de julho, as comunidades, juntamente com integrantes das Pastorais da Juventude, realizaram uma marcha pelas principais ruas do centro de Montes Claros em defesa da vida dos jovens. A marcha é uma ação da Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens. Lançada em maio de 2008, a Campanha busca levar à sociedade o debate sobre as várias formas de violência contra a juventude.

Para Edgar, da Pastoral da Juventude de Belo Horizonte, a CEBs é profética e missionária. Ela tem a missão de defender a vida, em especial daqueles mais pobres e excluídos. “Hoje, no Brasil, a juventude é esse público que tem o maior risco de morte, por isso a CEBs abre esse espaço tão importante para nós”, afirma.

O último dia do encontro foi marcado pela leitura da Carta e uma missa campal, com a presença de Dom José Alberto Moura e do Bispo da Diocese de Almenara, Dom Frei Hugo Maria Van Steekelenburg.

“CEBs: o modo normal de toda a Igreja ser”

A expressão de Dom Pedro Casaldáliga reforça que as questões defendidas pelas Comunidades Eclesiais de Base devem ser assimiladas por toda a Igreja-instituição.

As CEBs são comunidades missionárias e ecumênicas, isto é, abertas ao diferente, aos pobres e excluídos, às diversas culturas e religiões e até mesmo aos que não têm fé, mas trabalham e lutam pela justiça. Na libertação de todo preconceito e discriminação, as CEBs estarão sempre dispostas ao diálogo, na busca de novos caminhos que superem as enormes barreiras e contradições sociais, para construir o Reino de Deus na solidariedade, na justiça, no amor e na paz.

No artigo “Comunidades Eclesiais de Base – CEBs. Um jeito muito antigo de participar com fé, politicamente”, Frei Gilvander Moreira explica que dois aspectos principais dão a certeza do papel insubstituível das CEBs: “a formação cristã fundada em uma fé libertadora e o compromisso com os destinos políticos do país, por meio de uma participação cidadã, capilarizada por toda a sociedade civil, de forma consciente e solidária”.

Em Minas Gerais, a CEBs está presente nas 29 dioceses e arquidioceses. O primeiro encontro aconteceu em 1980, em Belo Horizonte. Com o tema “Igreja, povo oprimido”, ele serviu de preparação para os próximos encontros e atividades da CEBs no estado. Os mineiros se preparam para o próximo Intereclesial da CEBs, que acontecerá em Juazeiro, no Ceará, de 22 a 27 de julho de 2013. Com o tema “Justiça e profecia a serviço da vida” e o lema “CEBs, romeiras do Reino no campo e na cidade”.