Cultura é mais que animação

Do Jornal Sem Terra Especial Juventude Apesar de quase todos os dias ouvirmos falar de cultura, este é um tema bastante complexo, uma vez que cultura é tudo aquilo que fazemos para produzir a nossa existência. Antigamente, no campo, isso era mais fácil de ver, porque a cultura e a arte estavam muito ligadas ao cultivo da terra.


Do Jornal Sem Terra Especial Juventude

Apesar de quase todos os dias ouvirmos falar de cultura, este é um tema bastante complexo, uma vez que cultura é tudo aquilo que fazemos para produzir a nossa existência.

Antigamente, no campo, isso era mais fácil de ver, porque a cultura e a arte estavam muito ligadas ao cultivo da terra.

Mas as coisas foram se modificando, e hoje, na maioria das vezes, somos apenas consumidores e meros espectadores, seja da cultura – através da televisão, dos grandes shows, dos jogos de futebol milionários – seja da nossa própria comida, roupas, etc.

A cultura e a arte viraram mais uma mercadoria, e a classe dominante as usa para manipular nossos sonhos, desejos e principalmente para dificultar a nossa organização coletiva.

Querem nos fazer acreditar que os “valores” que eles pregam, como o individualismo, o culto à propriedade privada, o consumismo, devem ser os nossos. Já repararam que na maioria das vezes, quando temos tempo livre, acabamos ficando em casa assistindo filmes americanos na Globo, ou escutando músicas que falam de mulheres bandidas e homens traídos, que passam nas rádios, mesmo as do assentamento?

Eles dizem que só passam isso porque os jovens gostam.

Mas vendo bem, achamos que só gostamos desse tipo de música, filmes, programas, etc, porque não conhecemos outros… Nos fizeram acreditar que esse é o único tipo de “arte” a que podemos ter acesso, e que a arte “culta” é chata, que só os ricos gostam e podem ter.

Não é questão de talento

Quando temos oportunidade e começamos a estudar sobre as diferentes linguagens artísticas,
percebemos que também podemos produzir música, teatro, painéis, poemas, cinema e que podemos fazê-lo com o nosso ponto de vista, de jovens, do campo, que lutam pela construção de uma nova sociedade.

Assim, como todos podem cultivar a terra, produzir alimentos, todos podem produzir arte, desde que queiram e se empenhem para isso. Não existe um talento natural ou dom, o que precisamos é ter a possibilidade de conhecer, estudar e ter os meios para produzir essa arte, que podem ser um violão, uma filmadora ou uma rádio.

Por isso, devemos nos organizar e lutar para que nossas escolas sejam grandes centros culturais e esportivos, onde a arte e o esporte não sejam apenas usados para passar o tempo ou nos animar, ou ainda para “ajudar” o professor a explicar algum fenômeno, por exemplo, com um “teatrinho”.

A arte e a cultura devem ser também um meio de aprendermos, muitas vezes mais interessante que apenas o professor falando, e que nos faça pensar e nos desafie a fazer novas coisas.

Além disso, o trabalho com a cultura e a arte na escola pode ser um meio de troca com a comunidade e com a juventude da cidade, pois podemos realizar apresentações de teatro, dança, oficinas e seminários.

E que tal recebermos grupos culturais da cidade em nossas escolas e depois retribuirmos com uma visita às escolas deles mostrando nossa arte do campo?

Ou aprendermos uma arte que nasceu na cidade como o grafi te para pintarmos nossas escolas?

E organizarmos sessões de cinema com debate para toda a comunidade?

Fica aqui o desafio, vamos nos organizar e montar brigadas culturais em cada escola de assentamento e acampamento e juntos produzirmos uma cultura que seja nossa, que contribua para termos uma vida melhor e nos fazer melhores seres humanos.