Grito dos Excluídos resgata 60 anos de luta pela terra

Por Luís Henrique Shikasho “Uma enorme massa de trabalhadores sem terras e enormes áreas de terras sem trabalhadores, eis o quadro terrível que está a desafiar os esforços dos sociólogos, dos legisladores, dos órgãos técnicos governamentais e dos apóstolos cristãos(...)” [img_assist|nid=10555|title=Mais de 700 pessoas participaram da marcha |desc=|link=none|align=left|width=640|height=482]Este trecho está presente na Carta Pastoral publicada por Dom Inocêncio Engelke em 1950, ao final da Semana Nacional da Ação Católica realizada em Caxambu, em Minas Gerais.


Por Luís Henrique Shikasho

“Uma enorme massa de trabalhadores sem terras e enormes áreas de terras sem trabalhadores, eis o quadro terrível que está a desafiar os esforços dos sociólogos, dos legisladores, dos órgãos técnicos governamentais e dos apóstolos cristãos(…)”

[img_assist|nid=10555|title=Mais de 700 pessoas participaram da marcha |desc=|link=none|align=left|width=640|height=482]Este trecho está presente na Carta Pastoral publicada por Dom Inocêncio Engelke em 1950, ao final da Semana Nacional da Ação Católica realizada em Caxambu, em Minas Gerais.

Trata-se da primeira manifestação pública da Igreja Católica sobre a questão da terra, chamando a atenção para a necessidade de implementação da reforma agrária como instrumento indispensável a diminuição das desigualdades e injustiças sociais do país.

E foi sobre este olhar, 60 anos depois, que mais de 700 pessoas participaram do 16º Grito dos Excluídos, realizado em Campo do Meio (MG). A manifestação contou a presença de aproximadamente 20 organizações, entre elas a Pastoral da Juventude, os Conselhos Eclesiais de Base, a CUT, o MST, o movimento negro e estudantil, envolvendo mais de 8 municípios da região do sul de Minas Gerais.

Entre as atividades do 16º Grito dos Excluídos em Campo do Meio ocorreu uma marcha pelas principais ruas da cidade. Cartazes elaborados por estudantes do ensino fundamental, ornamentaram os espaços e retrataram o lema desta edição: “Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas para construir um projeto popular!”.

Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho, bispo da Diocese de Campanha/MG, comentou sobre a importância deste lema: “Se no âmbito de Deus somo iguais, ainda falta muito para termos igualdade de direitos. O Grito dos Excluídos vem nos lembrar que nossa luta é necessária para promover a Vida e dignidade para todos”.

[img_assist|nid=10556|title=Manifestantes colheram assinaturas para o plebiscito do limite da propriedade|desc=|link=none|align=right|width=640|height=490]O Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra recebeu destaque durante a manifestação. “Colocar limite na propriedade fundiária é condição para se realizar uma autêntica reforma agrária e para se obter justiça social. A mãe terra clama para ser libertada das garras do latifúndio, arma satânica que a seqüestra. Não dá para ser cristão sem lutar pela Reforma Agrária”, ressaltou Frei Gilvander Luis Moreira, assessor da CPT.

Durante todo Grito dos Excluídos, os lutadores e lutadoras do povo entoaram palavras de ordem exigindo a imediata desapropriação da área da antiga Usina Ariadinópolis, em Campo do Meio.

Uma área de 4.000 hectares, cujo antigo dono deve mais de R$ 200 bilhões a União. No mês de julho, a área foi ocupada pela terceira vez – somente neste ano, contando agora com um acampamento de 300 famílias.

Para Silvio Neto (MST-MG) o empecilho maior para desapropriação da área é político, pois é uma área simbólica para o agronegócio na região, confrontada diretamente por outro modelo de produção, da agricultura camponesa, caracterizada pela produção saudável de alimentos, pela fixação do homem no campo e aumento na qualidade de vida dos trabalhadores. Segundo ele “para o MST o conflito, que se arrasta por quase 14 anos, só se encerra com reforma agrária”.