Militante do MST fala sobre execução no Pará

Da Rede Faor Jose Valmeristo Soares, o Caribe, uma das lideranças do acampamento Quintino Lira, foi assassinado na sexta feira dia 03 de setembro. Segundo lideranças do MST no PA, a três anos tanto Caribe, quanto outras lideranças do Acampamento, vinham sofrendo ameaças por parte dos donos da Fazenda Cambárá, Deputado Federal Josué Bengstson (PTB) hoje candidato a Câmara Federal, e seu filho Marcos Bengstson, descrito pelas lideranças do movimento como o “gerente” da fazenda.


Da Rede Faor

Jose Valmeristo Soares, o Caribe, uma das lideranças do acampamento Quintino Lira, foi assassinado na sexta feira dia 03 de setembro.

Segundo lideranças do MST no PA, a três anos tanto Caribe, quanto outras lideranças do Acampamento, vinham sofrendo ameaças por parte dos donos da Fazenda Cambárá, Deputado Federal Josué Bengstson (PTB) hoje candidato a Câmara Federal, e seu filho Marcos Bengstson, descrito pelas lideranças do movimento como o “gerente” da fazenda.

O FAOR em Foco conversou com João Batista Galdino, que é sobrevivente da execução em Santa Luzia, e transcreve abaixo o seu relato sobre os fatos:

Nós recebemos uma intimação (trata-se de uma ação que o MST move contra a PM do Pará por um despejo ilegal realizado no acampamento) na quarta feira para comparecer na sexta feira em Santa Luzia (PA) às 09 da manhã.

Quando foi na sexta feira nos saímos (Caribe e eu) por volta de 07:30h do “Pau de Remo” Quando chegamos na Bela vista, o carro do pistoleiro, o carro do Marcos Bengstson tava lá na Bela Vista. Fizeram o retorno e acompanharam a gente.

Chegou lá numa ponte, eles tomaram a frente da moto, jogaram a pistola e os 38 em cima da gente. Daí paramos e eles fizeram nós entrar no carro. Nós íamos pra Santa Luzia prestar depoimento. Eles disseram:

– Pode deixar que nós vamos, vai dar tempo de dar o depoimento de vocês lá em Santa Luzia.

Quando chegamos na BR 316, ele desceu pro Cacoal, município de Bragança (PA). Quando chegou em Cacoal ele andou mais uns 8Km e entrou num ramal, ai ele agarrou e perguntou se o “Caribe” era o Zé Inácio.

– Não, eu sou o Caribe.

Daí o sobrinho do Chequetão disse:

– Ah! Safado é tu mesmo que ta me mirando.

Daí deu três tapas na coxa dele. Dai nos fomos neste ramal. Quando chegou na beira de um lago ele disse:

– Aqui acabou o caminho agora nós vamos conversar para vocês não mexerem mais com quem tem dinheiro”.

Ai o Caribe disse:

– Não Rapaz vamos conversar.

E ele disse:

– O tempo pra conversar já passou. Agora desce do carro

Nós descemos do carro, um com dois 38 e o outro com uma pistola. Daí ele mandou nós em uma capoeira. Nós entramos na capoeira, de quatro pés. Abaixados. Daí eu vi um sororocal e eu cai dentro do sororocal correndo e eles atirando.

Daí eu cai na água, cai na água descendo por água abaixo. Daí eu subi em uma ribanceira, e quando eu cheguei lá na frente eles deram mais 04 tiros. Daí eu cheguei em uma vilazinha, conversei com o pessoal e foram pra Bragança ligar porque lá não pegava o telefone.

Minhas coisas eles levaram tudo. Levaram moto, meus dois celulares, minha mochila. Quando foi de cinco e meia pra seis horas a polícia de Santa Luzia chegou para me pegar. Ai eu disse que era pra nós irmos lá buscar o corpo, pois eu sabia mais ou menos onde estava o corpo do rapaz. O policial perguntou:

– Você tem certeza?

Eu disse:

– Tenho certeza, pois o cara quando faz assim, ele vem pra matar.

O rapaz deu gasolina para a polícia de Santa Luzia e a Polícia de Santa Luzia não foi. A PM.

Daí ns fomos pra Santa Luzia. Chegando lá nós fomos para a delegacia para fazer a ocorrência. Daí eu voltei para a minha casa e liguei para a família do finado. Daí foi que eles disseram que daí a pouco estava chegando. Quando foi umas nove horas da noite chagaram sete motos Daí perguntaram se eu estava preparado para acompanhar eles até o local onde tinha acontecido.

Daí eu disse:

– Tô.

Daí nos fomos a delegacia e chamemos a polícia, de novo, para acompanhar a gente,para remover o corpo. Ele disse que não (ia) pois eles estavam muito cansados e que não poderiam ir.

Daí nós arrumemos oito motos e nós fomos, ata lá no acontecido.

Dez horas da manhã, achamos o corpo dele. Daí o rapaz foi, o sogro dele e disse:

– Olha, é melhor não mexer no corpo dele. O rapaz ta morto é melhor esperar o IML chegar pra remover.

Daí disseram:

– Aqui não é filho de cachorro não. Nós chamamos muitas vezes a polícia e ela não veio. Vamos botar na garupa da moto e vamos levar. (O corpo de Caribe foi amarrado ao corpo de um motociclista e assim chegou até a cidade.)

Assim nós fizemos, assim nós trouxemos o corpo do rapaz.

E que mandou matar foi o Marcos Bengstson..