Contra a volta da repressão e pela Reforma Agrária, MST apoia Ana Júlia

Por João Márcio Da Página do MST O cientista político da Universidade Federal do Pará (UFPA), Cloves Barbosa, faz uma ressalva diante da disputa do segundo turno para governador, no estado paraense, onde Simão Jatene (PSDB) enfrenta a petista Ana Júlia (PT). “O PT, embora não vá fazer uma revolução tem mais elementos populares, que se voltam a políticas públicas no campo, enquanto o PSDB governa totalmente a favor da classe dominante do agronegócio”.


Por João Márcio
Da Página do MST

O cientista político da Universidade Federal do Pará (UFPA), Cloves Barbosa, faz uma ressalva diante da disputa do segundo turno para governador, no estado paraense, onde Simão Jatene (PSDB) enfrenta a petista Ana Júlia (PT). “O PT, embora não vá fazer uma revolução tem mais elementos populares, que se voltam a políticas públicas no campo, enquanto o PSDB governa totalmente a favor da classe dominante do agronegócio”.

Para Barbosa, o PSDB, em seus doze anos consecutivos de governo, com Almir Gabriel e o próprio Jatene, acelerou o agronegócio na região, indo na contramão da Reforma Agrária e fazendo “vista grossa, com os problemas do campo, sobre a distribuição de terra, sobre o trabalho precário e escravo, deixando o agronegócio sem restrição legal à sua atividade”.

Traduzindo em números, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) apresenta um panorama desastroso com o avanço do agronegócio no estado paraense nos últimos tempos. Há 13 anos, o Pará é o campeão de assassinatos no campo. Lidera também o registro de violência contra os trabalhadores rurais, que incluem ameaças de morte, prisões e torturas. Em 2009, foram 266 conflitos. Além, de ser o mais violento contra ocupações em assentamentos, acampamentos e comunidades tradicionais, com 101ocorrências violentas assinaladas no ano passado, que incluem despejos, expulsões de famílias, destruição de bens, entre outros.

O Pará também é detentor de outro recorde negativo, causador de um impacto direto na violência no campo: é o estado brasileiro com a maior quantidade de terras griladas, propriedades obtidas de modo irregular, por meio da falsificação de documentos cartoriais.
Se fossem considerados os registros em cartório, o território do Pará teria 490 milhões de hectares, o que representa mais de três vezes o tamanho real do estado, segundo o Tribunal de Justiça.

Reforma Agrária x Repressão

Segundo Eurivaldo Martins, dirigente do Movimento no estado, os anos de PSDB no Pará foram marcados por muita coerção em relação aos movimentos populares, sobretudo com o MST, pois a Reforma Agrária foi discutida no patamar policial.

Para ele, basta ser lembrado o massacre de Eldorado dos Carajás, em que 19 trabalhadores rurais sem terra foram mortos pelo Estado com a conivência do então governador tucano Almir Gabriel. “Não teve Reforma Agrária, e a política agrícola adotada foi de muita repressão, foram doze anos de violência”, denuncia.

Martins aponta o diferencial nos quatro anos do governo petista de Ana Júlia: “no campo tivemos várias iniciativas da criação de assentamentos em terras públicas griladas, além do governo fomentar a construção de viveiros de sementes de grãos e a distribuição de algumas patrulhas agrícolas, com equipamentos e tratores nos assentamentos”.
Ele aponta que a repressão dos tempos de PSDB “ainda persiste em certas formas, mas foi trocada em muitos casos pelo diálogo estabelecido com os movimentos sociais”.

Créditos rurais

O governo PSDB não lançou mão apenas da violência para restringir a ação dos movimentos sociais, mas também deu prioridade ao latifúndio e ao agronegócio. Na opinião de Martins, “a especulação do recurso público no campo ficou concentrado entre os grandes produtores de monocultura, além de parte de esse dinheiro ser direcionado para produção dos festejos agropecuários, feiras, justamente para esconder as mazelas causadas por eles”.

Assim, os bancos, já donos de latifúndios na região e o maior financiador do agronegócio, são a principal “barreira para destinar subsídios para a agricultura camponesa e desapropriação das grandes extensões de terras griladas, onde rendem seus maiores financiamentos”, denuncia Martins.

“Em um Estado reduzido pela proposta neoliberal do PSBD corta–se os gastos públicos, acentuam-se as privatizações e emprega o dinheiro advindo de recursos da população nas fazendas e empresas privadas”, pontua Cloves Barbosa.

Portanto, a escolha do eleitor no próximo dia 31 de outubro para governador significa rumos distintos, dependendo do vencedor. “Para os camponeses, para a agricultura familiar, para as pessoas menos privilegiadas no Pará, é melhor continuar o governo de Ana Júlia para estender as mudanças que já vêm sendo feitas. Já o agravamento desse cenário catastrófico criado pelo próprio PSDB, é com o Jatene”, conclui Barbosa.