“Morte aos Sem Terra!”, dizem donos de terras no Pará


Da Página do MST

Oralício Araújo Barros, o Fusquinha, se estivesse vivo completaria 45 anos no último dia 17 de dezembro. Dirigente do MST no estado do Pará, foi assassinado em 26 de março de 1998, no despejo irregular da fazenda Goiás II, em Parauapebas (PA).

O crime de Fusquinha até hoje não teve sequer julgamento, assim como de Doutor, como era conhecido Valentim Serra, morto também no mesmo dia e circunstância.

Da Página do MST

Oralício Araújo Barros, o Fusquinha, se estivesse vivo completaria 45 anos no último dia 17 de dezembro. Dirigente do MST no estado do Pará, foi assassinado em 26 de março de 1998, no despejo irregular da fazenda Goiás II, em Parauapebas (PA).

O crime de Fusquinha até hoje não teve sequer julgamento, assim como de Doutor, como era conhecido Valentim Serra, morto também no mesmo dia e circunstância.

Seus algozes vivem tranquilamente no mesmo município que ocorreram os crimes, sobretudo o mandante, Carlos Antonio da Costa (Carlinhos), dono de uma rede de lojas de material de construção na região sul do Pará, e o executor, o fazendeiro conhecido por matador Donizete, o José Marques.

Num almoço no último domingo de novembro, em comemoração ao aniversário de um sobrinho de Donizete, a corja de fazendeiros se reuniu.

O assunto, entre um grupo de menos de oito senhores fazendeiros, muitos deles já sexagenários, iniciou-se pelos novos negócios. Donizete estava entusiasmado com a venda de terras para a Companhia Vale do Rio Doce. “O negócio agora é esse: adquirir terras e mais terras e vender para a Vale, ela paga muito bem”.

Mas os nomes MST e sem-terra foram lembrados com raiva, com discursos inflamados na conversa. “Somos uma classe desunida, temos que agir juntos”, dizia um senhor com a face avermelhada de nervosismo, sentado ao centro da mesa.

Outro fazendeiro indignado, recordando a ocupação do MST, em agosto na fazenda Marambaia, em Parauapebas concordou: “é mesmo, se aqueles dias da ocupação estivéssemos feito alguma coisa, aqueles vagabundos não estariam hoje na fazenda de nosso colega”.

A Fazenda Marambaia, segundo laudo do Incra de Marabá, é improdutiva e parte grilada.

Observado por Donizete, mais um dos colegas donos de terras levanta e decreta diante das falas dos presentes: “morte aos sem terra!”. Palavras que tiraram um belo sorriso do assassino de Fusquinha e Doutor.

Domingo adentro, as senhoras dos fazendeiros falavam de moda, cirurgia plástica e novela, eles tomavam cachaça e intercalavam seus assuntos sobre suas grandes extensões de terras griladas e improdutivas, suas belas caminhonetes conseguidas por financiamento público…

Além disso, hostilidades àqueles que lutam por um pedaço de terra no Pará. Assim terminaram mais um dia impunes.

Eis a chacina

Em relação ao caso da morte do Fusquinha, o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Afonso Batista, afirma  que“o processo está parado justamente porque envolve esses fazendeiros empresários de grande influência na região”.

Na época, Carlinhos, temeroso pela perda de parte da fazenda Goiás II, desapropriada pelo Incra em 1980, virando o assentamento Carajás II e ocupado pelo MST no fim de 1997, “planejou o despejo ilegal das famílias e a morte de lideranças da região, como a de Fusquinha”, revela Batista.

Carlinhos entrou na justiça, no município de Parauapebas, com um pedido de reintegração de posse e conseguiu uma liminar para o despejo, mas como a ação da polícia demorava, resolveu agir junto a outros fazendeiros da região, que temiam também perder suas terras adquiridas de maneira irregular.

Batista relata que tudo foi forjado: “Eles agiram por conta própria, compraram o oficial de justiça e fecharam acordo financeiro com onze policias militares, que inclusive atuaram no massacre de Eldorado de Carajás, em 17 de abril de 1996”.

Aliados

Testemunhas que estavam no dia revelaram a Batista que a ação de despejo aconteceu totalmente orquestrada, pois enquanto os fazendeiros faziam churrasco na sede da fazenda, mandaram os oficiais de justiça junto com policias contratados e pistoleiros para “pedirem” a saída das famílias.

Batista revela o relato de alguns acampados sobre a negociação: “os oficias de justiça foram lá e pediram a saída deles, diziam que tinham caminhões à disposição das famílias para levarem suas coisas e que era melhor saírem por bem, com eles, ou por mal com a ação violenta dos fazendeiros”.

As famílias, com medo das ameaças dos oficias de justiça e com a presença de pistoleiros e policias fortemente armados, já estavam todas nas carrocerias dos caminhões quando chegou Fusquinha acompanhado de Doutor.

Os dois tentaram argumentar sobre a saída da área. “O Fusquinha dizia que era ilegal o despejo, que ali era um assentamento”, diz Batista.

Não demorou muito, conforme testemunhas relataram, para Fusquinha e Doutor serem cercados pelos fazendeiros armados e embriagados. “Fusquinha ainda conseguiu se desvencilhar e conversar com algumas famílias para voltarem, foi quando escutou três disparos contra o Doutor, feitos por Donizete. Na tentativa de impedir, correu  na direção do assassino, quando também foi deferido por Donizete três disparos contra ele”.

Testemunhas

As testemunhas dos acontecimentos do dia 26 de março de 1998 praticamente inexistem hoje.

Embora muitos trabalhadores que estavam nas carrocerias dos caminhões tenham sido ouvidos na fase do inquérito, eles sumiram depois da morte da principal testemunha.

“Mataram o motorista da caminhonete que trouxe Fusquinha e Doutor. Ele não era do MST, era neutro, o que pesaria muito seu depoimento”, avalia Batista.

O processo continua na Comarca de Parauapebas. “Recolhemos todo os documentos de matéria na época, enviamos para os juízes que passaram a atuar no processo para levar a júri os mandantes e o assassino, mas até agora nada de concluir o processo dos acusados” desabafa Batista.