Agronegócio em Grajaú (MA): Expansão e Destruição

 

Por Fórum Carajás

Nos últimos anos o agronegócio tem avançado de forma violenta no Sul do Maranhão, e esse avanço tem sido comemorado e até usado como instrumento de campanha política nas disputas pelo governo do Estado. Isso porque esse avanço dos grandes projetos tem feito crescer de forma considerável o PIB(Produto Interno Bruto) do Maranhão. Porém,o que não é debatido são as desastrosas conseqüências que esse perverso modelo de desenvolvimento adotado pelos governos maranhenses trazem para o meio ambiente e os povos do campo.

No entanto, diante do atual panorama é necessário que a sociedade civil organizada promova o debate de temas de tamanha relevância social como esse, pois se não acordarmos agora do sono profundo da passividade, se não trazermos a luz aquilo que esta escondido na escuridão dos desejos do capital, o amanhã poderá ser tarde demais para o futuro das famílias camponesas do Maranhão.

A expansão do agronegócio no município de Grajaú tem provocado sérios problemas ambientais e sociais que vão desde a extinção de espécies vegetais e animais, a poluição e diminuição do volume das águas dos rios Grajaú e Santana, como também exploração da mão-de-obra feminina, concentração de terras e a expulsão das famílias camponesas para as periferias da cidade.

Meio Ambiente

Com o avanço dos grandes projetos de plantio de eucalipto, cultivo da soja, de uva e a pecuária de corte, os problemas ambientais tem sido inevitáveis, pois enquanto o município figura entre um dos primeiros na produção de soja com 9 mil toneladas em 2009, 24 mil toneladas de arroz, 130 mil cabeças de gado, uma enorme produção de carvão vegetal e um dos únicos produtores de uva do Maranhão e o maior pólo gesseiro do Estado, com a extração mensal de 35 mil toneladas, o meio ambiente está a beira de um colapso, porque grande parte de sua floresta natural deixou de existir para dar lugar ao agronegócio.

Toda essa ação desenfreada do capital no município de Grajaú tem levado a extinção de espécies vegetais como: bacuri, pequi, jatobá, aroeira etc; e espécies animais como: veado, paca, tatu, preguiça, jabuti, etc; O grande volume de agrotóxicos utilizados nesses grandes projetos tem aumentado a poluição dos rios que banham aquele município,os quais tem diminuído de forma preocupante os seus volumes de águas em conseqüência do desmatamento que tem feito desaparecer nascentes que os alimentavam e com isso vem a extinção de peixes como:o pintado, mandubé, surubim, mandi e outros que servem como fonte de renda e de alimentação das famílias camponesas.

Diante da presente situação, uma coisa é certa, se não fizermos nada na perspectiva de que seja barrada essa ação criminosa do agronegócio que é feita em nome de um progresso idiota que destrói a natureza e exclui as pessoas, as futuras gerações de grajauenses serão impedidas de conhecerem espécies que hoje estão em extinção e os rios que se encontram profundamente comprometidos, como é o caso do rio Grajaú, que já foi uma importante via fluvial que ligava o sertão com a metrópole onde era visível a importância dele no contexto socioeconômico no sul do Maranhão onde fora destinado por este devido sua privilegiada posição geográfica, o empório comercial dos nossos e de outros sertões.

Problemas sociais

Além de todos os problemas ambientais descritos anteriormente o agronegócio tem provocado vários problemas sociais como: aumento do número de famílias sem moradia e conseqüentemente conflitos e invasões de terras na periferia da cidade, o aumento do uso de entorpecentes, e da violência, a proliferação rápida de alcoólatras abandonados nas ruas e o aumento da prostituição principalmente nos bairros periféricos onde vivem as maiores vitimas do agronegócio que são as famílias camponesas que tiveram suas terras expropriadas e sem outra alternativa migraram para a cidade causando o inchaço e o crescimento desordenado dos bairros periféricos que sofrem com a falta de água, energia elétrica, saúde e infra-estrutura.

Todos os problemas já mencionados e o grande número de pessoas desempregadas e passando fome, muitos são obrigados a se sujeitarem a trabalhos duros e semi-escravos nas carvoarias e no pólo gesseiro para garantirem a sobrevivência. E o que nos deixa mais revoltado é a legitimação de todos esses absurdos por parte do poder público municipal que historicamente tem agido movido unicamente por interesses mesquinhos, particulares e criminosos.

Concentração de Terras

Tem sido assustador o aumento da concentração de terras nas mãos do agronegócio no município de Grajaú e na mesma proporção tem crescido a expulsão das famílias camponesas como já fora destacado anteriormente, e hoje imensas áreas de terras que dantes eram habitadas por espécies vegetais e animais da região e famílias camponesas que mediante a sua intima relação com a terra a explorava de forma sustentável para garantir a sua subsistência tem sido substituída de forma estarrecedora pelo cultivo de soja, eucalipto e a pecuária de corte.

Muitas vezes nos sentimos impotentes por ver centenas de hectares de terras sendo concentradas periodicamente nas mãos dos donos do capital em detrimento da fuga forçada das famílias camponesas para as periferias da cidade e ficarmos só olhando e lamentando sem ter muita coisa que fazer. Porém não podemos mais ficar parados inertes diante desta situação, precisamos debater estes temas com bastante responsabilidade e de forma urgente enquanto há esperança de mudança dos padrões de relações entre os homens e entre homem e natureza.

Precisamos urgentemente discutirmos um modelo de desenvolvimento para o Maranhão que possa garantir a permanência dos camponeses no campo e que não seja excludente, que não acabe com a natureza, que garanta a segurança alimentar de todas as famílias maranhenses.

Exploração da mão de obra feminina

Além de todas as mazelas causadas pelo agronegócio em Grajaú, que já foram comentadas acima, outro fator que tem sido preocupante é a exploração da mão de obra feminina. A partir de 2009 com a produção da uva no município deu se inicio a exploração das mulheres, pois o agronegócio encontrou naquele município um terreno fértil para tal exploração, como já falamos anteriormente que famílias foram expulsas para a cidade, gerou então um grande contingente de mulheres desempregadas, na sua maioria mães de família que não tendo alternativas são sujeitas dessas mazelas. Onde mulheres que tiveram seus direitos de acesso ao conhecimento sistematicamente negado, são submetidas a uma jornada de trabalho longa e com salários miseráveis.

Por se apresentar como única alternativa de sobrevivência, mães deixam seus lares ás cinco horas da manhã e só retornam às dezoito horas e quando chegam em casa precisam cuidar dos seus afazeres domésticos. São mulheres privadas da convivência familiar e das atividades lúdicas para garantirem a sobrevivência de sua prole, em detrimento do gozo, da felicidade e da acumulação de riquezas de uma pequena minoria que tem na exploração e na exclusão dos menos favorecidos a garantia de manter-se como elite dominante do sistema capitalista.

Fonte www.forumcarajas.org.br
Fotos: internet/divulgação