Embrapa veta cientistas em seminário sobre Código Florestal

 

Por Instituto Humanitas Unisinos

Pesquisadores da Embrapa foram impedidos de participar de um seminário para debater o Código Florestal na última terça-feira (23), na Câmara dos Deputados.

A reportagem é de Claudio Angelo e publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.

 

Por Instituto Humanitas Unisinos

Pesquisadores da Embrapa foram impedidos de participar de um seminário para debater o Código Florestal na última terça-feira (23), na Câmara dos Deputados.

A reportagem é de Claudio Angelo e publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.

Segundo o órgão, não houve veto, apenas uma “orientação” para que os cientistas evitassem falar “em nome da Embrapa” sobre o tema, já que oficialmente a empresa não tem ainda opinião sobre o assunto, ainda em discussão no governo.

Cientistas que apresentaram seus dados no seminário, porém, queixam-se de censura aos colegas. A Embrapa é parte do grupo de trabalho constituído em julho pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e pela ABC (Academia Brasileira de Ciências) para examinar as evidências sobre as relações entre ambiente e agricultura.

O grupo revisou mais de 300 publicações científicas e finalizou um relatório que visa subsidiar a mudança no Código Florestal, a ser votada na Câmara em março.
No encontro da última terça, convocado pela Frente Parlamentar Ambientalista, os pesquisadores da Embrapa apenas exporiam algumas conclusões do relatório. Foi o que fizeram outros membros do grupo de trabalho da SBPC, ligados a instituições como USP, Unicamp, Inpe e Ministério da Ciência e Tecnologia – que tampouco têm posição oficial sobre o tema, mas liberaram seus cientistas para falar.

Tensão

A Embrapa é subordinada ao Ministério da Agricultura, tradicional rival da área ambiental. A pasta apoiou a reforma no código em análise, proposta pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e criticada por ambientalistas. Segundo cientistas, algumas das conclusões do relatório da SBPC irritam o ministério, como a recomendação de que áreas de preservação permanente não sejam reduzidas, como propõe Rebelo – já que a lei atual não lhes dá suficiente proteção.

O fundador da Embrapa e ex-ministro da Agricultura Alisson Paulinelli, que integrou o grupo da SBPC, chegou a pedir para ser excluído dele por considerar o sumário executivo do relatório “faccioso”. O sumário teve uma nova redação e está na página da SBPC na internet (www.sbpcnet.org.br).

Correntes

As palestras de dois técnicos da Embrapa haviam sido acertadas na última sexta-feira com a SBPC. Eles apresentariam uma das principais conclusões do relatório: a de que a ausência de insetos polinizadores, como abelhas, provoca queda de produtividade de 40% a 100% em oito culturas comerciais (algodão, café, soja, maracujá, caju, pêssego, melão e laranja).

Como esses insetos se refugiam na vegetação nativa, existe um bom motivo econômico para o agricultor manter as matas. Na segunda-feira, porém, um dos pesquisadores, da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), mandou um e-mail ao grupo afirmando ter recebido ordem superior para não falar na Câmara.

Um terceiro cientista, da Embrapa Florestas, recebeu, segundo testemunha,ligação de sua chefia horas antes do seminário com a ordem para que não comparecesse. O deputado federal e ex-ministro da Agricultura Reinhold Stephanes (PMDB-PR), que esteve no seminário, se ressentiu da ausência da Embrapa. “É um negócio meio surrealista”, afirmou. “Para um debate desses dar certo, é preciso ter cientistas de várias [correntes].”