Jornada do MST ocupa seis latifúndios em São Paulo

 

Por Camila Bonassa, Magnólia Fagundes e Maria Aparecida
Da Página do MST


Em continuidade à Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, o MST intensificou as ações no último final de semana no estado de São Paulo.

Em toda jornada no estado, foram realizados mais de 15 protestos, além da ocupação de seis fazendas (veja lista abaixo). Cerca de 700 famílias reivindicam o acesso à terras públicas que deveriam ser destinadas à Reforma Agrária.

 

Por Camila Bonassa, Magnólia Fagundes e Maria Aparecida
Da Página do MST

Em continuidade à Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, o MST intensificou as ações no último final de semana no estado de São Paulo.

Em toda jornada no estado, foram realizados mais de 15 protestos, além da ocupação de seis fazendas (veja lista abaixo). Cerca de 700 famílias reivindicam o acesso à terras públicas que deveriam ser destinadas à Reforma Agrária.

Entre as áreas ocupadas estão a Fazenda São Domingos I, no município de Sandovalina (região do Pontal do Paranapanema); as fazendas Maria Ofélia e Santa Cecilia, na região de Andradina e um horto florestal no município de Itapetinga (região de Sorocaba). Esta última é uma estação experimental pertencente ao Estado de São Paulo, mas que está sendo utilizada irregularmente por empresas para a extração de celulose e madeira.

Também no final de semana, cerca de 250 famílias se somaram aos 800 trabalhadores da  Destilaria Guaricanga e ocuparam a área onde está instalada a empresa, no município de Presidente Alves (região de Bauru).

A ação, além de ser um ato de solidariedade aos 800 trabalhadores assalariados que foram demitidos da empresa, tem por objetivo denunciar a violação dos direitos trabalhistas ocorridos na destilaria. Cinco inquéritos já foram instaurados para investigar o crime de sonegação fiscal.

Incra

Dois escritórios do Incra foram ocupados desde o início da semana. Na segunda-feira, cerca de 100 famílias ocuparam a Unidade Avançada do Incra em Andradina. Outras 100 famílias ocuparam o escritório de Teodoro Sampaio na manhã desta terça-feira.
Os Sem Terra reivindicam, além do assentamento das cerca de 100 mil famílias acampadas em todo o país, a estruturação dos assentamentos já existentes. Entre as exigências estão casas, estradas, saneamento básico e créditos.  Além disso, denunciam o descaso com que essa superintendência vem tratando a questão da reforma agrária no estado de São Paulo.

As mobilizações fazem parte da Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária. No Estado de São Paulo já foram realizados diversas ações como trancamento de rodovias, marchas, atos políticos, feira de produtos da Reforma Agrária e distribuição de alimentos.

Agrotóxicos em horto florestal

Desde sábado, cerca de 250 trabalhadores rurais do MST, das regiões de Sorocaba, Ribeirão Preto, Grande São Paulo, Campinas e Itapeva, ocupam a área conhecida como Fazenda Barro Branco, no município de Itapetininga, interior de São Paulo. A ocupação denuncia a exploração das terras públicas por empresas privadas.
A área tem cerca de 12 mil hectares, pertence ao Governo do Estado de São Paulo e está sendo utilizada ilegalmente por empresas de pinus e eucalipto, como a Duratex, Suzano, Eucatex, entre outras, para extração de madeira e celulose.

As famílias reivindicam a arrecadação de terras para todas as famílias acampadas em todo Estado de São Paulo, bem como em todo território nacional.

Segundo Paulo Freire, da Direção Estadual do MST, “a área em que estamos é terra pública e está sendo utilizada ilegalmente por parte destas empresas privadas, por isso só falamos com os representantes do Governo do Estado de São Paulo”.

O MST tenta marcar uma audiência com o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para discutir sobre a situação desta área e do conjunto de terras públicas que existem no Estado.

Reserva ambiental

Na manhã da ocupação na área de “reserva ambiental”, as famílias se depararam com grandes quantidades de venenos que são utilizados na extração da resina.
Foram encontrados cerca de 200 galões, de 50 litros cada, totalizando 10 mil litros de um agrotóxico denominado de “Preta”, que são pastas estimulantes para resinagem de pinus. Essas pastas são compostas de ácido sulfúrico, água, farelo de arroz, emulgentes e materiais inertes.

De acordo com o administrador da fazenda, Orlando Antônio Freire Neto e a Polícia Militar, em entrevista à TV Tem, o simples contato com os produtos que estão no galpão perto de onde está o acampamento pode causar imensos prejuízos para a saúde humana, além da contaminação da terra e da água.

Segundo os próprios trabalhadores da fazenda, durante a aplicação dos materiais encontrados no “Horto Florestal” (como o chamam os administradores da fazenda) não se pode comer, beber ou fumar, por conta da periculosidade destes produtos.

“Qual a explicação para uma reserva ambiental ter uma quantidade tão grande de veneno?”, questiona Freire.

Questão trabalhista

No ano passado, os trabalhadores fizeram uma greve reivindicando a solução das inúmeras irregularidades cometidas pelas empresas, como por exemplo, questões salariais ou descontos de gastos da empresa na folha de pagamento dos mesmos.
Cada trabalhador recebe mensalmente cerca de um salário mínimo ou menos, com uma jornada de trabalho de 10 horas/dia. Trabalham por produtividade e a cada dia recebem mais ou menos R$ 20,00 para retirar a resina de 2.000 pés de pinus, ou seja, cada trabalhador recebe apenas R$ 0,01 para cada pé de pinus estriado.

Muitos estão com sérios problemas de saúde, como tendinite, e mesmo chegando à invalidez. Alguns destes problemas se devem ao manuseio dos produtos químicos utilizados na retirada da resina (e que encontramos quando da ocupação).

Outra reivindicação dos trabalhadores se refere ao pagamento de energia elétrica. Uma parte dos trabalhadores mora numa vila pertencente aos arrendatários da fazenda, que eles controlam. As empresas cobravam de cada trabalhador a quantia de R$ 200,00 para o gasto que supostamente teriam com energia elétrica, que era descontado direto da folha de pagamento mensal.

“Conversando com os trabalhadores, dá pra ver bem claro que a escravidão ainda não acabou. Precisamos denunciar esse descaso que existem com os trabalhadores, pois as condições são precárias”, afirma Marilene de Camargo, professora aposentada que participou da conversa com os trabalhadores da fazenda.

Abaixo, veja a lista de ocupações do MST, dentro da jornada nacional de lutas organizada a nível nacional.

PONTAL
– 15/04 – Ocupação da Fazenda São Domingos I, com 280 famílias (tem fotos).
– 19/04 – Ocupação do Incra Teodoro Sampaio, com 100 famílias

ANDRADINA
– 13/04 – Ocupação Fazenda Maria Ofélia, em Pereira Barreto. Área já foi desocupada.
– 14/04 – Ocupação Fazenda Sta Cecilia, em Araçatuba.
– 15/04 – Ocupação do Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo, em Pereira Barreto, contra a reintegração de posse de área.
– 18/04 – Ocupação da Unidade avançada do Incra, em Andradina.

SOROCABA
– 16/04 – Ocupação área de Estação Experimental do governo do Estado de São Paulo

RIBEIRÃO PRETO
– 11/04 – Marcha Alexandra Kolontai, em Serrana para Ribeirão Preto, com 200 pessoas.
– 12/04 – Ato prefeitura de Ribeirão Preto, com distribuição alimentos, cerca de 1 tonelada.
– 14/04 – Ocupação área da FEPASA, município de Orlandia, com 30 famílias.
– 15/04 – Encontro das Escolas do Campo, em Araraquara, cerca de 300 crianças Sem Terrinha, em homenagem ao Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

PROMISSÃO
– 16/04 – Ocupação da Destilaria Guaricanga, com cerca de 250 famílias das regiões de Promissão e Iaras, no município de Presidente Alves.

GRANDE SÃO PAULO
– 13/04 – Ato político-cultural, em Cajamar, com a participação de 150 pessoas.

CAMPINAS
– 15/04 – Trancamento Anhanguera, com 80 trabalhadores do MST, ficou fechada por cerca de uma hora.